quinta-feira, 20 de agosto de 2015

MACIEIRA ANCIÃ

 da série Empírica Mente


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Há um caos no tempo, como se fosse um rasgo no futuro, ou o passatempo amalucado de um deus brincalhão e tão ou mais demente do que crente em suas criaturas. Mal sabe ele que suas brincadeiras, que a ele parecem tão inocentes, são meramente incipientes. Não. Talvez incipiente não seja a palavra adequada para esse ato vil de largar a esmo uma criatura tão frágil quanto o tal humano por aí, nesse inferno pré-lúdico que estampa cada face que brota da escuridão. Esse deus apenas pensa que brinca, mas ele próprio já é fruto da anarquia bizarra de outro deus maior. Penso que nisso tudo, um deus faça parte apenas da constelação de vários céus, divididos uns dos outros por meros véus alaranjados e transparentes.

Tem um deus para cada gosto, ou até mesmo um para mero tira-gosto. Crenças absurdas nascem do nada e morrem assim, a desdém daqueles que saem por aí, reconfigurando a crendice com palavras puramente espúrias, pífias e rangidas em dentes que mal servem para mastigar algo putrefato. Existem deuses belos, que regam seus séquitos com chuva de água de flores, enquanto exigem sacrifícios de virgens para que a beleza vingue em determinado lugar. Que chuva é essa? Flores que vertem seiva sanguinea? Enquanto isso, numa outra esquina celestial qualquer, outro deus apela pela dissociação da ignorância, distribuindo sabedoria embarcada em sub-deuses em forma de vento. O problema é que o vento nem sempre é manso, e ao invés de construir, torna tudo pura ruína. E a sabedoria se perde pela mão pesada daquele que impera tal qual um rinoceronte ignorante num trono de folhas secas.

Tem deus da colheita, da floresta, da chuva, do manifesto inconformista, da marmita azeda, das virgens orelhudas, e o que eu mais gosto, do cogumelo da esquina. Ah! Esses últimos não existem? Por que não? Se existem tantos deuses por aí, alguns inventados enquanto se apruma o cotovelo no balcão de um bordel qualquer, por que não posso inventar os meus?

E no fim das contas, é bem assim. Vai se moldando um deus a seu bel prazer, que atenda suas reverências enquanto mal se consegue fazer uma única referência verdadeira à existência de um céu que não seja esse infinito escuro que temos diante da crista do olhar humano.

E assim, caro companheiro, fomos criados e largados a mercê de um cosmos devorador de consciências. Dizem que tem um deus por aí, que cria, que conspira entre estrelas e planetas, mas que depois larga seus bibelôs a própria sorte. Esse é o deus do momento, poderoso o suficiente para ser um ente gigantesco mas, em sua infinita magnitude, se esconder dentro do olhar de um ser minúsculo e sem cílios. Então, repito aqui uma frase que me deixou muito animado, extraída de uma série de tv um tanto antiga, do fim do século passado: “A verdade está lá fora, juntamente com um punhado de mentiras.”¹.

A verdade é essa (ao menos assim eu penso): existe um deus, e ele é gigantesco. A mentira, no entanto, vem ancorada, dizendo que ele se esconde. Não, ele não se esconde. Ele está aí, e é realmente gigantesco. Não podemos vê-lo porque, pasme, estamos dentro dele. Nosso mundo, nosso universo sem fim, é puramente a consciência desse deus, e não se iluda, achando que não existem outros deuses. Existem sim. Uma constelação deles. Todos morando lá fora, numa coletividade divina inexplicável e insuportavelmente inimaginável. E cada um desses seres fantásticos tem seus “mundos” internos, seus universos imaginativos, suas consciências vivas ou, ao menos, em formação.

Não diria que fazemos parte de “matrix”. Vou além, e afirmo que nós somos matrix, pois penso que podemos ser o fruto da imaginação de um ser apaixonado pelo ato da criação. Ele não nos abandonou a esmo. Jamais faria isso com algo que ele idealiza faz tanto tempo. Ele apenas está em seu sono reparador, mas logo acordará.

Enquanto isso, alguém escreveu que “...homens e suas sombras me contam que lágrimas são migalhas de pão de quem não voltou pra casa, e qualquer asa é uma afronta aos que se mantém presos nesse concreto em ebulição. Não são mendigos de sonhos, mas de realidade.”².

Saiba, meu amigo, que a maior carência humana é justamente essa, a da realidade. É muito triste querer ter crença e não poder tocar naquilo que seria o combustível de sua fé. Palavras não passam de um amontoado de letras, e tanto escrevem verdades quanto mentiras, podem fantasiar, maquiar aquilo que é real, esconder o que é gigantesco ou tornar soturno o raiar de um dia ensolarado. Palavras cortam mais do que chicote. Talvez, justamente por tudo isso, é que esse deus que me move não fale. Ele prefere imaginar, racionalizando suas ações diretamente para o fruto bendito de suas querências. Não há livre arbítrio. O que existe é a liberdade de sonhar. Mas ninguém consegue controlar o que se sonha, não é?

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A realidade mais palpável vem daí, de um sonhador alucinado que adormeceu sob uma macieira anciã, aquela mesma que não frutificava mais. Eva não comeu a maçã, e o coitado do Adão é meramente a ilustração machista das mãos daqueles que mal e porcamente sabiam o que era o mundo, mas que conheciam muito bem o poder escravizador que a palavra possui. Não foi um deus quem criou paraísos perdidos para bajular o ser humano. Pelo contrário. Foi um deus quem deu a chave para que essa clausura fosse aberta. E quando as portas desse paraíso foram derrubadas, a magia se fez clara e definitiva. Ele, esse deus, tentou dar ao ser humano um pouco de, veja só, REALIDADE. E o que nós fizemos?

Eu digo o que fizemos. Pegamos essa realidade e a transformamos em algo mentiroso, pois não sabemos viver de nada concreto. Inventamos, pois, o sofisma.

Séculos se passaram, e o que mais fazemos é justamente isso. Inventamos verdades para esconder as mentiras. E tudo está lá fora, nesse grande omelete sem ovos que é o universo dos pensamentos de um deus que jamais abandonou seus sonhos.


Marcio Rutes



não copie sem autorização, mesmo dando os devidos créditos.
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referências:

¹ - da série Arquivo X

² - da crônica DE AZUL ENTARDECIDO, de Samara Bassi

segunda-feira, 27 de julho de 2015

O CAOS DA TEORIA



dominó - imagem do Google
Incansável é a busca do ser humano por respostas aos mistérios da vida e do universo. Existem alguns desses segredos que viraram chavão, como o tal “de onde viemos e para onde vamos?” (especulações populares referentes ao meio científico), ou ainda os assuntos da fé (criação, céu e inferno, entre outras dúvidas dentro das crenças), e por aí vai. Mas perceba que nada disso é pequeno, coisa que se resolve com simples especulações ou conjecturas, ou horas perdidas em divagações e filosofia de boteco. Nesses assuntos, e em muitos outros, as cátedras ainda engatinham tais quais bebês prematuros, isso devido ao grau de complexidade que envolve cada um desses assuntos.

Muitos deles, claro, se resolvidos ou respondidos, não irão alterar em nada a rota natural de nossos destinos. Um ou outro, inclusive, sofrem fundamentações espúrias vindas da ânsia humana em questionar sem razão. Outros são assuntos sérios e poderiam indicar mudanças significativas em nossa forma de conduzir as coisas. Enfim, são problemas a serem resolvidos, e que tomam um tempo imenso da humanidade. Penso que parte desse esforço poderia ser dedicado a assuntos de grau de complexidade bem menor, mas que afetam diretamente tudo o que acontece a nossa volta.

Assim é a raça humana. Dedica esforços imensos para vergar um metal que sequer está ao alcance dos olhos mas que intimida somente pelo pressuposto de sua existência, enquanto o que machuca de verdade é a minúscula pedra que está no sapato e que, com a repetição dos micro ferimentos que causa, poderá criar uma enorme ferida.


Escotomas?

O menor dos seus problemas pode ser, amiúde, seu maior atraso. É claro que sim, pois na sua ânsia de crescer a qualquer custo, só o que você vê é aquilo que está gritante e diante dos teus olhos. O que é pequeno ou secundário, mas que está ali e se repetindo a todo instante, passa despercebido.

O acumulo do que é pequeno pode criar uma montanha. Então, quando você dá conta do que está acontecendo, existe um muro quase intransponível diante de você, e moldado inteiramente com aqueles tijolinhos miúdos, irrelevantes até aquele instante. Durante muito tempo, só o que você fazia era desviar, ou passar sobre eles. Afinal, eram só tijolinhos, não é? Até que um dia, assim numa terça-feira qualquer e chuvosa, você notou que não dava mais para contornar, e muito menos existia algo (ou alguém) que auxiliasse você a passar por cima.


Passar por cima?

Isso soa de um jeito estranho, não é? Muitas vezes, ficamos até envaidecidos quando alguém comenta algo assim conosco: “Você é incrível. Passa por cima de tudo como se nada existisse.”. Até que num dado momento notamos uma inversão nessa “verdade”, e vemos que estamos a mercê de um atropelamento por parte de tudo aquilo que “passamos por cima”. O sentimento de fragilidade aparece, e o que era para ser algo fácil para um caráter imediatista, passa a ser um sofrimento claro e angustiante, próprio daqueles que negligenciaram os efeitos que seus atos poderiam acarretar durante um percurso tão delicado quanto a vida.

E nessa hora, o que mais se quer é passar por baixo, de um jeito discreto e silencioso, sem ser percebido por ninguém.


Ninguém?

Não é bem assim. É nesse instante que um conflito interno começa. Pessoas que “passam por cima de tudo” são turronas, donas de uma personalidade forte, e acham que não precisam de ninguém. Nunca. Se, por acaso ou por fato premeditado, precisam de alguém, é por puro interesse.

Então, no momento em que estão no chão, o que deveria ser mais difícil é admitir que se precisa de ajuda. Mas não. As pessoas até admitem, mas o ato de pedir ajuda leva a outro, o de assumir erros e, também, a responsabilidade por tudo o que esses erros acarretaram. E tudo desanda de vez.


Infortúnios?

imagem do site Hype Science
Edward Lorenz descreve muito bem o que os pequenos e quase invisíveis acontecimentos podem causar em nossa vida. Na década de 1960, disse ele que o bater das asas de uma borboleta no Brasil pode causar, tempos depois, um tornado no Texas”¹. Mais tarde e com aprofundamentos, isso veio a ser conhecido como a TEORIA DO CAOS, que tenta explicar como “uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam praticamente imprevisíveis - caóticos, portanto.².

Não sei o que pensar sobre a Teoria do Caos. Aqui, caos poderia ser definido como algo sem ordem, em completa confusão, caótico. Então, o exemplo da borboleta citado por Lorenz não bate. Imagino a cadeia de reações necessária, de forma ORDENADA, para que tal coisa ocorra. Um evento desse porte, com tanta complexidade, não pode ocorrer vindo apenas das coincidências. É claro que é apenas o ponto de vista de um leigo, e você pode dizer que a coincidência é um dos condimentos principais do caos. E se partirmos do princípio que essa teoria é real, então nós todos, tudo a nossa volta, é fruto do caos. E que também todo problema de dimensões estratosféricas pode ter (e tem, seguindo a teoria) raízes em eventos minúsculos.

Neste caso, então, cada infortúnio de sua vida, por maior que seja, teve origem em algo imensamente menor, em alguma coisa que você sequer reparou ou negligenciou, pensando que nada aconteceria se você simplesmente ignorasse tal coisa. Voltamos, assim, aos pequenos problemas.


Tudo está escrito?

Aceitar a Teoria do Caos é como afirmar a não existência do tão famigerado DESTINO. Sim, pois se essa mesma borboleta que bateu as asas no Brasil e causou um tornado no Texas precisar sobrevoar outra área que não aquela para onde ela deveria ir (isso motivado pela chegada de outro vento forte que uma borboleta qualquer causou ao bater suas asas em algum local remoto), ela será capturada por algum predador e não depositará suas larvas, as mesmas que iriam virar outras borboletas e que causariam outros ventos, que desviariam rotas de outras borboletas, impedindo-as de seguir assim seus desígnios naturais. Tal coisa provocaria um desastre na cadeia alimentar (seguindo a Teoria do Caos), causando impacto na alimentação de seus predadores, que poderiam até deixar de nascer, o que influenciaria também a nutrição e, com isso, a normalidade na existência daqueles que estão um degrau acima nessa pirâmide predatória. Se colocarmos tudo isso numa época que me antecedeu, e como meus pais se alimentam de carne, e estão no topo da cadeia alimentar, vai saber se eles não seriam afetados? Neste caso, eu não estaria aqui, e tudo por causa de uma dita borboleta com síndrome de ventilador.

Estou a um passo de trocar a Teoria do Caos por aquela outra que diz que “tudo é Matrix³. Ou seja, nada é realidade, apenas mera percepção. Porém, alguém diria que foi uma borboleta metida a besta que resolveu pousar num computador e, com isso, gerou Matrix. Acho mais saudável permanecer no Caos.

Enquanto isso, outro alguém dirá que sim, o destino existe, pois alguma força superior já havia previsto, e escrito, que a bendita borboleta nasceria e bateria as asas alí, naquele fatídico momento, a ponto de causar em seu final o tornado. Dirá, é claro, que cada elemento necessário para corroborar o resultado final também foi escrito e descrito minuciosamente no livro sagrado dos três tempos (passado, presente e futuro). Destino. Tudo está escrito.

Não afirmo nada. Só sento e escuto, penso, e fico amalucado. É um círculo, onde cada resposta gera uma infinidade de outras perguntas. E quem sabe seja justamente isso, essa cadeia de ações e reações, que mais me cative, e ela vem justamente da afirmação do Caos.

Eis a parte sólida do mistério. Justamente aquela que mais me dá arrepios e que me deixa reticente. O medo de abrir a caixa.


Pandora?

Em linhas muito superficiais, e para não tomar tempo, Pandora é um paralelo grego ao mito de Adão e Eva, porém um tanto mais dramático.

Caixa de Pandora - imagem do Google
Veja que interessante essas passagens que extraí de um texto: “Pandora está associada com fazer o mal que não pode ser desfeito., “Pandora foi enviada para Epimeteu, que já tinha sido alertado por seu irmão a não aceitar nada dos deuses. Ele, por ‘ver sempre depois’, agiu de forma precipitada e ficou encantado com a bela Pandora. Ela chegou trazendo uma caixa fechada, um presente de casamento para Epimeteu. e “Ao abrir a caixa na frente de seu marido, Pandora liberou todos os males que até hoje afligem a humanidade, como os desentendimentos, as guerras e as doenças. Ela ainda tentou fechar a caixa, mas só conseguiu prender a esperança..

A precipitação levou o tal Epimeteu a se apaixonar por Pandora. Ele “via sempre depois”. Mas havia sido avisado por seu irmão (Prometeu) de que algo ruim poderia acontecer caso ele se encantasse pela bela dona. Prometeu “via sempre antes”. No fim das contas, Epimeteu não seguiu os conselhos do irmão, deu uma cantada na moçoila (ou caiu na cantada dela), a caixa foi aberta e o mundo foi contaminado por tudo o que não presta. Ironicamente, a única coisa que ficou presa na caixa foi a esperança. Ou, pelo menos, se pensa assim. Mas vai saber o que restou lá dentro ainda, não é?

É uma história dramática, com um enredo que somente os gregos poderiam compor, mas é uma parábola fantástica e que cabe como uma luva aqui, em minhas divagações.

Prometeu (aquele que via antes), antecedeu que algo estava errado. Ainda era um pequeno problema. Epimeteu (aquele que via depois), nem deu ouvidos ao irmão. Passou por cima de tudo, e o que era apenas uma desconfiança em seu princípio, ou um indício de um problema ainda pequeno (bastaria não abrir a caixa para que o problema se resolvesse), virou uma catástrofe que afligiu todo o mundo.

A grande questão aqui vem de um dito popular bem conhecido: a curiosidade matou o gato.

Mesmo sabendo que algo muito ruim poderia acontecer, a caixa foi aberta. O que os moveu? A bestialidade que esculpe o caráter humano? A curiosidade em desvendar o desconhecido? A necessidade premente em desobedecer? Ou por que simplesmente resolveram passar por cima de tudo e acharam que poderiam resolver tudo depois?

Não sei se eu abriria a caixa, mas garanto que minha curiosidade seria tanta, a ponto de me tirar dos eixos.


Onde está o fim?

O fim está no começo. Uma pergunta gera uma resposta, que gera outra pergunta para outra resposta e, assim, desenhamos o símbolo do infinito. Nunca termina, pois sequer sabemos se um dia começou. Quando você responder a última pergunta, o fim terá sido modificado, e isso provocado pelas reações de seus atos e de tantos outros que questionam até mesmo seus próprios questionamentos.

No fim das contas, tudo parece ser uma questão de ação e reação. Se ordenadas, são destino. Se caóticas, cabem dentro da teoria do caos. Entre elas um muro de dúvidas.

O que sei é que para evitar um problema maior, preciso cuidar do acúmulo dos problemas menores. E isso é difícil, pois vê-los nem sempre é tarefa facilitada para o ser humano. Talvez isso aconteça por algo que carregamos em nós, a tal megalomania. Ou por desatenção, falta de zelo para conosco, insanidade, falta de responsabilidade... ou outra coisa qualquer.

Mas isso tudo, a causa de não ver os problemas menores, é justamente UM PROBLEMA MENOR. Depois penso nisso. Não acho que gerará algo maior.


Será que não?



Marcio Rutes



não copie sem autorização, mesmo dando os devidos créditos.
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notas:
¹ e ² - A Teoria do Caos.
trechos extraídos da página Mundo Estranho 

³ - Tudo é Matrix
saiba mais em Hype Science

⁴ - Caixa de Pandora
trechos extraídos da página Mundo Educação 

quarta-feira, 15 de julho de 2015

MIGALHAS



image by Samara Bassi
Nunca foi muito fácil falar de mim mesmo. Bom, a bem da verdade, e por mais que alguns deem risada do que direi, no meu caso o ato de falar é que nunca foi fácil. Chame de timidez, introspecção, vergonha, formação intelectual precária, ou seja lá o que for, mas o fato é esse. Tive dificuldades com o tal “falar” durante quase uma vida toda.

Bom, quem sabe por isso eu escrevi tanto nessa minha trilha de migalhas que venho seguindo?

As primeiras experiências do tal "falar" sempre são mais fáceis, apesar de árduas. Calma, eu explico. Quando sequer sabemos o be-a-bá, lá estão pai, mãe, tios e um monte de gente mais velha fazendo aquele famoso (e completamente desnecessário, senão prejudicial) introdutório do ato de falar no estilo eu-falo-erradamente-e-você-repete. Mais ou menos assim, ó: gugú-dadá, bebê qué papá? fala mã-mãe meu bebê cuti-cuti, fala pá-pai bobão, bebê feiz totô?, etc, etc... Obviamente, não me lembro bem dessa fase, mas penso que me arrepiava só de ver um adulto falando assim perto de mim, e, claro, com aquele biquinho que todo mundo faz. Mas, enfim, esse é o começo, e só o que temos que fazer é tentar repetir. Mais depois, a coisa aperta, e os adultos que ensinavam tudo errado passam a nos corrigir sempre que engatamos em alguma palavra. Que vida, não? Primeiro, nos ensinam do jeito mais equivocado, e depois, se nos equivocamos, nos censuram e corrigem.

Próxima etapa: escola. Aqui, outro perrengue para mim. No meu tempo de primário, quatro décadas atrás, a coisa era diferente. As professoras não eram nada compreensíveis, e se não aprendíamos por bem, ia por mal mesmo. É nessa época que se começa a entrar na língua formal, é claro que muito superficialmente, mas o nível começa a mudar. Detalhe. Pouco se explicava e muito se impunha. No entanto, eu ganhei um presente imenso nessa mesma época. Algo que somente lá na adolescência é que dei o devido valor. Trilhei meus primeiros passos numa coisa chamada escrever.

imagem coletada no Google
O tempo passou, e sobrevivi aos primeiros anos de escola. Lembro que a cada vez que algum professor me chamava para ler ou falar, era um calvário. Pedagogos ou psicólogos, hoje, dariam solução facilmente, mas naquela época sequer se sonhava com isso. Crescíamos assim mesmo, com essa sensação de terror de se apresentar em público, de medo de ler em voz alta, ou de pavor em ter alguém julgando.

Quando cheguei nos meus quinze ou dezesseis anos, notei que gostava muito mais de escrever do que do próprio ato de ler. Tá, hoje eu sei. Um completa o outro. Mas eu sequer pensava nisso nessa época. E foi quando um mero professor de português me ajudou a amar desmedidamente o ato de escrever. Ele pegou uma de minhas redações e disse que aquilo estava um lixo, e que eu jamais conseguiria escrever uma migalha sequer que se aproximasse de algo que ele chamou de “composição aceitável”. Fiquei puto da cara com ele, mas hoje eu agradeço. E esses parágrafos, até agora, são dedicados unicamente a esse professor de português.

Pós-adolescência, juventude, fase madura. Em cada uma dessas fases aprendi alguma coisa, e trouxe comigo. Resultado? Hoje eu falo pelos cotovelos, me informo, falo mais ainda, me informo mais, e falo de novo. Procuro bases para argumento, aceito críticas, critico, busco pessoas que se interessam por assuntos que vão além das novelas ou filmes para dialogar... e assim vou. Eu sei que tudo isso é quase uma catarse, e também um escudo, mas sou assim.

Isso tudo que relatei acima fui achando pelo caminho, seguindo as migalhas que estavam na trilha. Na minha trilha. O engraçado é que tudo parecia acontecer mecanicamente. Até que um dia precisei me questionar, me perguntar onde eu estava errando e por que existia uma sensação de vazio nas minhas composições. O ofício de escrever me completava, mas naquilo tudo tinha alguma coisa que não caminhava bem. Eu não conseguia atingir as pessoas como queria, faltava algo. Foi quando me disseram que eu não deveria obrigar os outros a falar minha língua. Era eu quem deveria falar a língua de meu público. Um sábio conselho que trago até hoje. Não entendeu? É mais ou menos como “se está em Roma, aja como os romanos”. Resumo da ópera: lá fui eu me adaptar. Mas foi bom. Conheci pessoas de outras áreas, com outros assuntos e outras idéias. Não sei se consegui a adaptação que queria ou como ela deveria ser, mas entrei num mundo completamente diferente.

Quando comecei essa adaptação, achei que era um tanto tarde, pois eu já estava pra lá dos quarenta anos de idade, mas logo depois, um fato me deu a certeza de que não poderia ter sido diferente. Mas isso explico mais para frente.

O que sei é que minha vida mudou completamente quando pisei na sala de um curso de publicidade. Foi como dar asas a uma imaginação que já voava mesmo sem ter céu para isso. Mudei um tempo de cidade, perdi completamente o medo de expor minhas composições e conheci pessoas de todos os jeitos. Algumas muito especiais. Uma delas, inclusive, resolveu aparecer em minha vida para, pouco tempo depois, deixar um imenso buraco. Um buraco grande a Bessa. Mas, tudo bem, é a vida.

Vai daqui, vai de lá, e as migalhas sumiram do caminho. Aquelas mesmas que eu estava tão acostumado a seguir. Me senti um pouco perdido, sem ter como me guiar, até que enfiei a mão no bolso e encontrei algo inesperado. Um pão que era interminável (isso é metáfora, tá bom?). Levei um tempinho para entender isso, e como aquele pão teimava em não acabar, eu ia rasgando e jogando os pedaços pelo caminho, para ver se ele diminuía ou desaparecia, mas ele continuava lá, no meu bolso, se refazendo a todo instante.

Entrei em tantos assuntos esquinais depois disso. Passei por tantas “vibes”. Criei coragem para dizer as verdades que doíam aos outros mas que, ao mesmo tempo, me engasgavam.

Acreditei em tantas coisas antes impossíveis, que minha trouxa de viagem pesou nas costas. E desacreditei em tantas outras para, somente então, perceber que muita coisa nessa vida se finge de fácil somente para esconder que é, realmente, ...fácil.

Amar é fácil. Acreditar em céu e inferno também. Mas admitir que se gosta de arroz e feijão queimados, pipoca estourada com pimenta malagueta ou algodão-doce roxo, isso é difícil. Sim, pois acreditar no amor é uma convenção. Já céu e inferno é imposição, e acredita-se, muitas vezes, para satisfazer aos outros, mas as pessoas tendem a acreditar. Já nessas outras coisas (o feijão e arroz queimados, a pipoca com pimenta e o algodão-doce roxo), é questão de gosto, e se alguém não gosta, lá vem aquele “ecaaaaa, você gosta disso?”. Pois é. Para alguns, só podemos gostar do que eles gostam. E durante muito tempo, a coisa funcionava assim para mim. Dizer que gostava, ou não, de algo unicamente para satisfazer quem estava perto. Demorei para mudar isso. Mas mudei.

O pão? Continuava no bolso. Só que agora, por onde eu andava eu via passarinhos me seguindo. Num belo dia, resolvi guardar o pão e parei de jogar os pedaços. E aquela passarinhada berrou sem parar. Foi quando um estranho me disse que eu tinha o dever de alimentar aqueles pássaros, pois fora eu quem tinha deixado os ditos mal acostumados. Tá, vamos nessa. Eu continuei, e até exagerei. Pedaços maiores, o pão inteiro, mais frequência na alimentação... até que além dos passarinhos de sempre, resolveram aparecer pássaros maiores, inclusive urubus. Os grandes pássaros, mais ávidos, roubaram o pão de minhas mãos, e se foram, acabando com a mágica da restauração. Ficaram junto a mim apenas os pequenos passarinhos, que passaram a se alimentar de sementes, mas continuaram comigo pelo caminho.

Ali, em meio aos que ficaram, encontrei uma pequena passarinha. Ela, quem sabe, nem fosse a mais aparente. Pelo contrário, ela tinha os mesmos problemas que eu tinha lá atrás. Não gostava muito de aparecer. Mas eu a enxergava perfeitamente, e a admirava tanto que passei a observá-la cada vez mais.

O caminho estreitou, depois alargou demais, secou, virou rio, escarpa, buraco, subida, descida, até se transformar, dois anos atrás, numa bela vereda. Alguns passarinhos ficaram pelo caminho, outros seguiram trilhas diferentes, enquanto os que me seguiam iam comendo sementes e “plantando” as mesmas pelas beiradas, de um jeito só deles. E quer saber o fruto que vertia dessas sementes que eles “plantavam”? Pães mágicos. Somente pessoas com um certo dom é que conseguiam vê-los. Alguns outros, como eu, podiam colhê-los, mas raros eram aqueles que sabiam usá-los corretamente e não os perdiam. Quem conseguia aprender, pasme, virava passarinho plantador de pão. Eu, no entanto, perdi o pão e por pouco não perco a mágica de enxergar os próprios passarinhos. Perdi sim, mas entendi a mensagem. Não aquela do homem me dizendo que eu tinha a obrigação de alimentar os pássaros. Eu falo da mensagem verdadeira.

Hoje eu sei que é fácil alimentar fartamente quando se tem o que dar, sem pensar no futuro. Só que nessa hora, poucos sabem guardar para um momento de carestia. E, além disso, aparecem os esfomeados, aqueles que são gulosos ou, o que é pior, que só aparecem para se aproveitar e roubar daqueles que realmente precisam. Esses esfomeados-esganiçados usurpam o que podem e depois somem. A verdadeira mensagem veio de uma certa passarinha, que desde o começo guardava as migalhas que eu desperdiçava pelo caminho. Então, no dia que me vi faminto, ela deu para mim aquilo que ela amealhou pelo caminho.

Há que se ter o que plantar, mesmo que se tenha um pouco de fome. Se você tem duas sementes, coma uma. Amenize sua fome. Mas a outra semente, plante-a. Só assim, mesmo tendo que esperar um pouco, você terá mais amanhã. E se nascer pão, então espalhe-as pelo caminho, para alimentar quem realmente precisa e sabe reconhecer esse gesto. Mas sempre guarde algumas migalhas. Mesmo pequenas, elas te alimentarão algum dia e, claro, servirão de sementes.

imagem coletada no Google
Essa passarinha, que eu tentei certa vez prender em mim e precisei soltar para não perdê-la, se transformou em algo muito maior do que uma mera companheira em minha vereda. Hoje, faz dois anos que ela disse SiM para mim. Posso afirmar, com toda a certeza de todos esses anos de crenças e descrenças, de que ela é a maior certeza de minha vida. Se um dia eu achei que amar era fácil, ela me fez ver que sim, realmente é fácil. Mas, me ensinou também que não basta amar. Tem o respeito, o companheirismo, a cumplicidade, a vontade de querer amar sempre mais, o caminho, a vereda, as migalhas, a liberdade das asas... Ela me ensinou a ser moleque de novo, e me mostrou que existem pessoas que gostam de falar, enquanto outras preferem escutar. Me mostrou que isso é absolutamente normal. E eu achando que era um estranho por não gostar de falar! Tá, hoje falo demais, não é, Samara? Parte dessa culpa, acho, deve ser tua.

Lá atrás, falei que a adaptação que precisei parecia ter vindo tarde demais, e comentei também que eu estava errado. Pois é. Não poderia ter sido antes. Não sei se acredito em destino, mas gosto de pensar que tudo estava predestinado a ser assim. Senão, penso que teria atrapalhado um pouco a vida de alguém que é bem mais nova que eu. E ela precisava ter vivido o que viveu, ter passado pelas experiências que teve, senão, como poderia, hoje e mesmo muito mais nova, me ensinar tanto quanto ensina?

O fato é que amar, realmente, é fácil, mas somente quando temos a pessoa certa ao nosso lado. E eu amo minha Samara e a tenho SeMpre junto a mim.

Ah! Sim. Faltou dizer algo. Sabe no que eu acredito, depois de tudo o que relatei? Creio que se pode "acreditar" naquilo que quiser, desde que haja vontade de enxergar algo belo, assim como a magia de duas folhas numa poça d’água. Elas não estavam lá para qualquer um, mas sim para aqueles que souberam apreciá-las. Os demais sequer reparam nelas, ou passaram por cima, resmungando com a chuva.


Entendeu? Não? Tudo bem. Espero que teu caminho seja o suficientemente grande para que isso, algum dia, faça sentido.



Marcio Rutes



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quinta-feira, 4 de junho de 2015

VERDADES E MENTIRAS

série EMPÍRICA MENTE


imagem coletada no Google
Talvez você queira, um dia, mudar o mundo. Quem sabe você pretenda ser um líder religioso que orientará muitos para a paz. Você pode vir a ser um guru, um conselheiro, alguém admirado e procurado por muitos que buscam as verdades e mentiras que existem por aí.

Mas, como entender e mudar o mundo, se você não é capaz de se entender? Como saber o que é necessário para a paz, se você próprio vive em conflito? Como aconselhar alguém, se o que mais brota de tua mente é a dúvida?

A catarse, a exteriorização dos sentimentos… sim, são necessários, mas há que se saber até onde podemos “exteriorizar” e, sempre, o que devemos exteriorizar. Algumas miudezas devemos levar conosco, para uma jornada longa e que castigará os pés. Um caminho árduo, sinuoso e sombrio nasce conosco, embutido num lugar único e que leva a um destino que apenas uma única pessoa pode chegar, se chegar: seu próprio “eu”.

Fazemos nossas próprias verdades, e como muitos dizem por aí, uma mentira dita muitas vezes vira uma verdade. Você tem dito verdades para si mesmo, ou se enche de mentiras para tentar, assim, satisfazer o espírito com algo que lá adiante servirá como desculpa para sua covardia em encarar as realidades que tanto te assustam?

Nem toda verdade é uma verdade por inteiro, assim como nem toda mentira tem seu cunho irreal. Então, no que acreditar? O que contar para seu íntimo? Como mensurar toda essa informação que te chega sem se contaminar com toda essa imensa aura de fumaça pegajosa que recobre o que você deveria estar rejeitando?

Não existe uma verdade única. Não existe. Existem as verdades que você quer ouvir. Existem as verdades que saciam teu ego submisso ou submetedor. Existem as verdades que corrompem e assustam. Existem as verdades que denigrem ou que fabricam heróis e vilões. Existem as verdades do corpo. Existem as verdades da alma.

Existem, no entanto, algumas verdades que estão atrás de barreiras quase intransponíveis. São verdades que não dizem respeito apenas a você, mero pedaço de carne que um dia apodrecerá para sustentar aquilo que você hoje destrói. São verdades não corrompidas, guardadas numa ampulheta celeste própria para marcar o tempo que te resta antes mesmo dele começar a correr. São verdades que uma mente capciosa e um espírito fraco jamais entenderão. São verdades que não falam nada e que sequer podem ser descritas por palavras, pois elas não são tangíveis a olho nu ou visíveis para mãos feitas de carne. Distantes demais para a ciência descrevê-las, mas próximas em demasia para que o ser humano se perca dentro delas.

Do que elas falam? Como vou saber, companheiro, se sou um mero andarilho ainda, preso na corrente do tempo e do vento? Ainda estou capengando com minhas próprias conjurações, e das minhas pernas, sequer os joelhos desatolei.

Mude o mundo, mas primeiro, preocupe-se em arrumar tua casa. Nada pode ser começado do meio. Ou tua casa pouco importa para você? Uma maratona se começa no primeiro passo. Maldita é a mania que o tal humano carrega em tentar apressar tudo. Apresse o vento, e ele vira tempestade. E sabe o que é engraçado? Na tempestade, casas saem voando, mas o junco verga e volta. A natureza levou milhares de anos para aperfeiçoar o junco.

Somos inteligentes? Sim, é claro que somos. Mas, o que é a inteligência senão a capacidade de raciocínio somada à quantidade de conhecimento adquirido e a velocidade com que se processa tudo isso?

Conhecimento? De que? Verdadeiro, ou contado pelo homem?

Sim, somos inteligentes. Raciocinamos sobre aquilo que nos dão, e quem somos nós para contestar os livros que mandam ler? Somos inteligentes sobre aquilo que conhecemos, mas somos alienados diante da quantidade absurda de falsa informação alardeada todos os dias por todos os meios que fazem tudo isso chegar aos nossos ouvidos.

Beba Coca-Cola, compre Batom, eu quero minha Calói, gordura demais faz mal, café faz bem, seja vegetariano e viva uma vida saudável, o corpo precisa de carne, o homem descende do macaco, os continentes eram formados por um único bloco, meu deus é melhor que o teu, use camisinha, cuidado com o câncer de pele, aspirina é um bom analgésico mas faz mal pro estômago, alopatia irá te curar, a religião salvará o mundo, a religião acabará com o mundo, homem deve constituir família com uma mulher, dê a outra face, cure chulé com vinagre, somente a fé liberta, a ciência explicará, deus voltará, deus não existe, deus existe, você é aquilo que você come, você come aquilo que você é, o inferno te espera, a terra é o inferno... etc... etc... etc.............. etc.

O inferno está dentro de sua mente, não dentro de seu espírito. Se você pensa que aqui é o inferno, então viverá uma vida atribulada, onde quase nada dará certo. Seu espírito busca sempre o equilíbrio, onde o bem e o mal te darão a sabedoria suficiente para caminhar em paz. Equilíbrio entre um e outro, o negativo e o positivo. E você não precisa ser um doutor em nada para buscar esse equilíbrio, como também ninguém poderá fazer isso por você. No entanto, você precisa estar disposto a buscar isso dentro do lugar mais complexo que existe: você mesmo. Então o inferno começará a fazer sentindo, e você verá que ele é construído por você mesmo e para você mesmo. Céu e inferno, equilibrados, te fazem caminhar entre um e outro, mas quando você não se permite tal equilíbrio, poderá cair dentro da fogueira que você tanto insiste em apurar.

Ao tentar buscar o equilíbrio dentro de seu "eu", você não irá se perder, pelo menos não mais do que já está perdido. Você é um labirinto, mas não se preocupe com isso. Labirintos existem unicamente para te dar o tempo necessário para se preparar para aquilo que irá encontrar no fim do caminho. E se você não encontrar a porta derradeira do labirinto, é porque não se preparou o suficiente. A paciência não é um dom, mas um requisito necessário para não se perder ainda mais dentro de você mesmo. E ela, a paciência, deve ser aprendida e desenvolvida, exercitada a cada instante e com muito empenho. Muitos jamais conseguirão desenvolvê-la e, por consequência, nunca encontrarão o rumo certo dentro de seu labirinto íntimo.

E se a pessoa conseguir achar a saída, o que ela irá encontrar do lado de fora?

Nada, pois esta não é uma saída para fora. Jamais falei isso. Falei em “fim do caminho”, que na realidade é, somente, uma pequena parte de uma jornada sem fim. Você está entrando, e não saindo. Ao encontrar esse “fim do caminho”, você começará a entender que as verdades são desnecessárias, pois não existem mentiras, pelo menos não aquelas que se pensa existir quando falamos dos mistérios do universo. Somos energia, e a carne é apenas um mero frasco que acomoda nossa essência. Alimento para o corpo se acha em qualquer quintal, mas para o espírito, esse precisamos cultivar internamente, em nós mesmos.

imagem coletada no blog Mundo Bonsai
Então, se você entendeu o que escrevi acima, no fim do labirinto você poderá encontrar a si próprio, preso e perdido pelas verdades e mentiras humanas. Você se vê vítima de sua própria tirania. Uma coisa eu te garanto, companheiro. Quebrar as correntes que te prendem não será tarefa fácil. Ninguém gosta de desacreditar naquilo que levou uma vida inteira achando ser verdade. E nesse momento, ao olhar para trás, você verá que seu labirinto se modificou e ficou milhares de vezes mais complexo. Então, te cabe uma decisão: voltar e desistir, fingindo que aquilo tudo não passa de um sonho muito louco ou uma alucinação causada por algum cogumelo muito do besta, ou enfrentar as verdades e mentiras terrenas para, assim, começar a buscar aquilo que talvez você jamais alcance, que são justamente os mistérios que passarão a te guiar.

Difícil, não é?

Um dia você entenderá que pode voar. Não com asas, mas com aquilo que te foi dado, teu pensamento. Só lembre que até a mais robusta águia enfrenta problemas com o vento forte. Nessas horas, ela pousa e repousa, esperando pacientemente a ventania passar. Mesmo desprovida da capacidade de raciocinar, ela usa seus instintos. Estes, por sua vez, são suas verdades, as únicas que ela conhece. Para a águia, não existem mentiras.


Entendeu agora?


Marcio Rutes



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quinta-feira, 16 de abril de 2015

LOUCA LIBERDADE



imagem coletada no Google






Quero toda sua pouca castidade
Quero toda sua louca liberdade
Quero toda essa vontade
De passar dos seus limites
E ir além, e ir além...
”.¹








Talvez você nem saiba, menina, mas quando você tinha lá os teus 16 anos, já existia quem te descrevesse para o mundo. Alguém cantava teus passos futuros num ritmo que me fazia dançar mentalmente e imaginar onde andaria aquela que seria a dona da minha vontade.

O engraçado, menina, é que existia em você uma vontade tão grande de liberdade, ou de voar, ou ainda de expansividade, que você se encolhia. É. Ninguém entendia teus anseios. E era no seio dessas querências que você foi moldando todo teu caminho, sempre assim, quietinha e com esse jeito acanhado.

Me apaixonei por você sem ao menos saber que você existia. Eu te amei em sonho, em pensamento, no cheiro do teu perfume que vinha pelo vento. Te desenhei tão perfeitamente num papel imaginário mas, veja que coisa estranha... eu não sei desenhar sequer uma linha reta com uma régua. Mas desenhei. E guardei esse desenho no álbum dos meus dias.

Sou um maluco apaixonado por tudo aquilo que me faz bem, e você sabe fazer isso como ninguém. Sempre fez, desde antes de me conhecer. Não entendeu? Ah! Tão fácil de explicar. Você só me ensinou coisa boa, como a ser paciente, pois te esperei tanto, e tanto... ou ainda a jamais perder a esperança. Me ensinou a lutar pelo que eu quero e acredito, e também que os limites... os limites são apenas provas de uma etapa, e que se forem vencidos, passamos prá outra. Aprendi, com você, que o amor não é essa coisinha banal e meramente etérea que alguns praticam. Fui a fundo nessa arte, e vi que sou um mero aprendiz. E quer saber? O mais gostoso de tudo é aprender com você como se ama de verdade.

Mas o melhor de tudo é que você tem me ensinado, nos nossos dias de hoje e amanhã, que somos, sim, dois alquimistas insaciáveis, e que aos poucos libertam seus sonhos e desejos. E estamos fazendo isso juntos, mesmo que trombando contra algumas montanhas teimosas, que insistem em bloquear nossas veredas.

Te ver pela primeira vez não foi como ver o mar. Não, não foi. Foi mais. Foi como olhar pela janela de um trem, lá no meio do desconhecido, e enxergar a mais alta montanha, no meio do verde ensolarado, e mirar lá em cima um pássaro ávido por escalar aquele mirante desafiador.

É. Te ver pela primeira vez me deu vontade de voar, e provar toda essa louca liberdade que, agora, você sabe que te move.

Gostoso é saber que não precisamos de praças imensas, com seus jardins povoados de gente louca e apressada, mas sim de um quintal lá nos fundos de nossa casinha pequena no pé do morro. Diamantes? Que nada. Queremos cascalho, seixos e quartzo, artesanalmente moldados pelas mãos do universo. Nada de champanhe cara e licor marrasquino. Um vinho feito das nossas uvas já satisfaz. E nas nossas loucuras, transar na rede é muito melhor do que dormir em lençóis de seda dos hotéis de luxo.

Prá nós dois, criança combina com lama, não é? E com fruta no pé, com pipa subindo alto e com alguns palavrões que nós mesmos vamos ensinar. Nada dessa criação casta e absurdamente alienante que hoje se verga em nome de uma “vida politicamente correta”. Nossa cria será solta e sabedora de sua liberdade, mas também do respeito que deverá ter pelo próximo, seja ele gente, bicho ou um mero capim.

E assim, menina, nossa semente será deixada, para continuar tudo aquilo que cremos e escrevemos. Que o universo não apenas nos ouça, mas que nos eternize no sangue perfumado e na tez clara de Clara.

Pois sabemos “...que a vida pode ser maravilhosa”.²

E foi quando te vi matéria–prima das minhas lágrimas de felicidade.

Jamais tenha medo de sonhar, pois o sonho é o princípio de toda e qualquer realização. Eu te sonhei durante toda a minha vida, e será assim para o SeMpre.

E se eu precisar agradecer a alguém por ter me apresentado você, acho que agradeceria ao Ivan Lins, pois foi justamente por ele que descobri que uma certa menina Vitoriosa já habitava meu peito, e com raízes que somente vidas passadas poderiam, e podem, explicar.

Essa louca liberdade está em você, menina. É hora de ir além.



¹ e ²“Trecho da música VITORIOSA
Autores: Ivan Lins , Victor Martins
Álbum: O Essencial De Ivan Lins
1999”.


Marcio Rutes



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domingo, 15 de março de 2015

O Tempo, o Ego e o Lego


Imagem coletada no Google.
Vai assim e a gente aprende, se adapta, vai sendo moldado.
Por vezes, perguntamos se tudo é um grande Lego. E quer saber? Talvez seja mesmo. A vida é um castelo que se vai montando, desmontando e re-moldando, até que, num dado momento, a brincadeira envelhece, e o brinquedo é trocado por outro.

Mas alguns são saudosistas. Gostam de brinquedos velhos. Outros ainda guardam os gibis antigos, que mesmo empoeirados, continuam dando boa leitura. Não falo de colecionadores. Esses não guardam lembranças. Esses fazem investimentos. Para esses, a vida tem mais pontos e menos vírgulas. Será que isso é bom? Encerrar períodos e guarda-los somente para suas vistas? Ou seria melhor “virgular” algo, prolongar e compartilhar com outros que também gostam? Tão bom ter alguém pra dividir nossas experiências e, com isso, somar alguma coisa em nós. Muito ao contrário de guardar tudo num cofre, engarrafando tudo para agregar valores midiaticamente toscos e ressonantes apenas para alguns que compõe grupos “evoluídos” às custas da vaidade e da ganância.

O meu é maior que o teu. O meu é melhor que o teu. Eu tenho, você não. Eu posso mais do que você. Eu quero, eu pego compro. É meu, e você só pode admirar. Meu status é maior que o teu.

É mais ou menos como a relação entre o homem e seu pênis. Ele pode ter um pinto de bom porte, mas se esse mesmo cara sequer supor que outro homem nas redondezas tenha um maior, pronto... lá vem os olhares de “revesgueio”, de desconfiança, a vontade de apunhalar pelas costas, o ciúme, e até um certo constrangimento e, por que não, um pouco de depressão. Mas será que chega a tanto? Para muitos homens sim, e para um enorme número de mulheres também. Elas podem ser desprovidas de um pênis entre as pernas, mas a ganância, a vaidade e o egoísmo criam facilmente um baita dum pênis na cabeça delas. Um "caralho" psicológico para elas. Assim, a natureza humana nivela os pares, para todos viverem em um mundo de ostentações, puramente hedonista, numa ilusão plena de que guardar para ter e "se mostrar" é melhor que desfrutar de forma consciente. Tudo vai envelhecer, por mais que você guarde. Tudo. Mas não é preciso esconder. Não se poderá esconder, por exemplo, a carne envelhecida e que um dia enfraquecerá ao ponto dela própria implorar para a gravidade puxá-la de vez para baixo. E acredite, vai despencar, você querendo ou não.

Imagem coletada no Google.
Tornemos ao Lego. Desmonte e remonte seus esquemas. Adapte-se. Aproveite o tempo que ainda tem. Se precisar, volte lá na pracinha e tire os sapatos. Ande descalço. É bem melhor do que uma plástica no rosto. Pense um pouco. Sua boca vai ter um sorriso torto com as plásticas caras, mas seus pés irão sorrir desmedidamente pelo simples contato com o chão. Sem contar que é muito mais barato. Ah! Tá. A terra contem impurezas, é suja e poluída. A sola de seus pés estão finas, e isso causado pelo uso excessivo de sapatos... dói. Mas a vida dói. E vai doer cada vez mais, principalmente se continuarmos pensando que podemos tudo, sem ligar pra nada.

Vai doer sim. E precisamos acostumar com a dor. Monte uma clínica médica com seu Lego. Ou um sanatório, um asilo, um cemitério...

Tire logo essa porcaria de sapato e vá andar na grama. Enquanto ainda é tempo. Vida de apartamento é um apertamento para a alma e para o corpo. E se você não se deu conta, “andar descalço”, cara, é uma metáfora. Caso não tenha entendido, então não são os pés que você precisa descalçar, mas sim seu cérebro, que anda mais compactado que uma amêndoa. Ao menos, a amêndoa tem lá suas utilidades. Ela alimenta, e já é um grande diferencial para ela.

Essa mania de engarrafar tudo cria gargalos. Ora ou outra tudo empaca. E não adianta tentar socar.

O tempo virou uma dor de cabeça para muitos. Ele passa, e rápido demais. Analgésicos? Sim, mas meramente paliativos. E ainda viciam. Soluções corporais, reparos na lataria carnal, remendos sobre remendos... e muita gambiarra. Mesmo assim, o tempo continua passando. Você pode remontar muitas coisas. O tempo que já passou, esse não dá. Legos são materiais, mas o tempo, esse é vinho que seca, e que não se pode reidratar.

Levamos décadas aprendendo a fazer o certo, e no fim, nem sempre o certo é o correto (ou o mais prático). É como escrever. Anos e anos aprendendo gramática, para somente depois entender que é necessário “falar a língua” de nosso público. Publicitários e cronistas entenderão. Esses quase sempre precisaram desaprender para reaprender tudo de novo, e se adaptar, se remontar. Olha aí o Lego novamente.

Não me entenda de forma equivocada. Foi apenas um exemplo da necessidade de readaptação. Nada contra a língua formal.

Lego. © Copyright LEGO® Brasil 2014.
Enfim, o tempo é o fim. Que ironia, não é? Tanta pressa para que, por vezes, tudo passe mais rápido. É o ônibus que demora pra chegar, ou aquela semana que se arrasta para trazer de volta o sábado, ou ainda a tão sonhada maioridade, que leva eternos dezoito anos para dar as caras. Assim vivemos, torcendo pro tempo passar mais rápido, até que nos damos conta de que ele... passou. E passou rápido.

É quando olhamos para nossos castelos que montamos durante nossa vida, e começamos a desmontar. Peça por peça.

Estranhamente, com tanta tecnologia existente, o Lego persiste. Ele não ganhou versões eletrônicas, e envelheceu junto com cada um de nós. E ficará para amanhã, para os filhos dos filhos fazerem exatamente o que estou fazendo agora. Divagando.

É assim, ó:
só a natureza reconstrói o que ela própria construiu; o homem, esse só faz remendo.

O que fica é aquilo que você aproveitou, aquilo que edificou moralmente, o peão de madeira branca, a gota de suor no papel da pipa, a escrita no papel marejado pelo tempo. Fica o teu desejo, o realejo na esquina que não existe mais, as lembranças da semente de sabiá laranjeira, e a esteira no fundo do quintal. Fica a sensação de encabulamento, ou o lamento por não ter transado atrás da árvore quando você teve a chance e ela tava doidinha de tesão, e a aliança do casamento do meio irmão. Fica o Lego, que alguém irá desmontar pra amontoar uma outra vida. No mais, são só sensações.


Marcio Rutes



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domingo, 4 de janeiro de 2015

PONTOS DE VISTA


Arquivo pessoal
Era mais uma manhã de Natal. Diante do trabalho árduo dos últimos tempos, aquele era um dos poucos momentos de sossego em meu quarto, e eu aproveitava para colocar a correspondência (eletrônica) em dia e preparar mimos para minha mulher.

O relógio marcava algo em torno das 9 horas da manhã, e como em incontáveis outras vezes, olhei pela janela para, mais uma vez, exercer um papel  “voyeristico”.  O que vi foi uma vizinha toda especial , bela e se exibindo para mim. Por vezes, seu companheiro aparecia, e então eram eles que assumiam o papel de observadores.

Ficamos assim por um bom tempo, quase numa comunicação telepática. Penso que a paixão pela observação mútua estava plantada em nós, isso frente as tantas vezes em que exercitamos essa adoração entre nós. A admiração era tanta, ao menos de minha parte, que cansei de estancar o que fazia para ficar olhando para ela ou, em algumas vezes, para o casal. No entanto, naquele dia de Natal, as divagações tomaram tanto a mim quanto a eles também. Evidentemente, não posso afirmar nada por eles, mas do jeito que me olhavam, creio que também estavam intrigados comigo.

Eu descansava, enquanto o casal trabalhava exaustivamente, como se o Natal pouco significasse para eles. Por que eles agiam assim? Seria um custo tão alto para eles se parassem e aproveitassem esse dia tão especial? E eles, dentro daquilo que a natureza ensinou, o que pensavam sobre minhas atitudes?



MEU PONTO DE VISTA

Um ano inteiro de trabalho. Fins de semana e feriados ajudaram a repor as energias, mas o Natal... ah! o Natal é o Natal, não é? Época de festa, de presentear e ser presenteado, de fazer ceia, de rever amigos, de confraternizar, badalar, descansar, começar a pensar nas resoluções para o novo ano, e gastar, gastar e gastar. Sim, claro. Afinal, trabalhamos o ano inteiro para aproveitar justamente esse finzinho de temporada. Alguns, mais precavidos, pensam num futuro mais distante, e poupam um tanto. Mas a maioria torra o que tem e, o que é pior, o que não tem, nessa época.

Arquivo pessoal
Mas, e aquele casal? Trabalhavam todos os dias da semana. Sequer viajavam ou aproveitavam para bater asas por aí, em folgas ou fins de semana. Mesquinhos? Egoístas com eles próprios? Unhas-de-fome? Quem sabe! Afinal, cada um é cada um, e sabe onde o calo aperta.

Ela é linda, altiva, forte e completamente elétrica. Quase exótica. O peito é algo que me deixa boquiaberto, tal é o porte e a beleza. E ele... me apaixonei quando vi. É o exemplo do macho que toma as rédeas do provento, e está sempre pronto para colocar a mão na massa. Ele é daqueles que olha por cima, austero, imponente. Porte físico avantajado, ágil, briguento, e se olhar torto para ele, já viu. Ela escolheu bem. E além de ser um companheiro exemplar, é um pai como poucos tiveram. Pode trabalhar o quanto for, pouco importa, ele está sempre presente.

A crença deles, pelo que imagino, está na sobrevivência. Eles são do tipo dominantes. O que é deles, é deles e pronto. Se deixar, vão expandindo seus domínios. Se apropriam mesmo. Donos de um gênio forte, se completam em força quando estão juntos. Mas não pense que ela é frágil quando está sozinha. Que nada. É uma mãe daquelas que mata primeiro e pergunta o que está acontecendo somente depois que a “vítima” parou de respirar.

E como são exibidos.

Mas, será que não vão parar sequer no Natal? Vão trabalhar até nesse dia tão festivo? Isso chegou a me lembrar da fábula da Formiga e da Cigarra. Enquanto a formiga trabalhava sem parar, a cigarra cantava. Ficou provado que a cigarra teve um fim de vida mais triste, enquanto a formiga teve um inverno mais ameno, com mais alimento e chances de sobreviver a ele, mas, lá na frente, ambos morreram com o passar do tempo. Morreram sim, mas a cigarra se divertiu mais.

Puxa vida. Que saco de existência esses meus vizinhos estão ensinando para os filhos.



PONTO DE VISTA DELES

Piu. Piu. Piu.




RESUMO DA ÓPERA

Enquanto eu divagava, meus “vizinhos” sobreviviam. Faziam aquilo que a natureza ensinou a eles. E se eles não fizessem, ninguém faria por eles.

Pouco importa se é natal, páscoa, dia das mães ou dia do índio. A crença deles está na pureza de suas essências, na limitação de raciocínio que os impede de engenhar e construir artefatos e, claro, no instinto que os impele e os mantêm vivos.

¹
Eles trabalharam naquela manhã de Natal, assim como fizeram em cada dia de suas curtas existências. Não ganharam dinheiro pelo que fizeram, mas também não gastaram nada para ter uma bela refeição à mesa... digo, no ninho.

Eu, no entanto, gastei o que ganhei, e vou ter que trabalhar novamente para ganhar mais dinheiro e, com isso, poupar para o próximo Natal ou, o que é pior, pagar as contas que fiz para conseguir realizar meus festejos.

Eles não são reclusos de crenças ou dogmas. Se é Natal, ou se existe um Criador, para eles pouco importa. Estão aqui para cumprir um papel, que é o de manter viva a própria espécie. E confesso que isso me causou uma pontinha de inveja.

Ainda estão lá. Da minha janela, vejo o Sabiá macho pulando de um lado para o outro, enquanto a Sabiá fêmea se vira para picotar uma minhoca. O festerê involuntário, ao que parece, vai ser bom e com mesa farta. Até pensei em colocar algumas coisas para eles, como ração ou, quem sabe, até algumas minhocas, e assim, dar meu presente a eles, mas fiquei quieto, só observando.

Deixa eles. Afinal, eles trabalharam tanto, e merecem a tranquilidade desse dia de Natal, mesmo que eles sequer saibam que isso existe.

Eu? Vou ficar por aqui, como um voyeur, olhando e admirando o casal de Sabiás que tanto adoro. De tantos amigos que tenho, esses dois são os que mais têm meu respeito e admiração.



Marcio Rutes



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¹ Imagem pertencente a Rubens Craveiro.