segunda-feira, 11 de agosto de 2014

UMA FESTA MALUCA NO PAÍS DAS MARAVILHAS - cap. 1

ATENÇÃO
Este conto não é recomendado para crianças.
Contém expressões e/ou frases que podem ser 
inadequadas para menores de 14 anos de idade.


CAPÍTULO 1




parte 1. ME EMPRESTA A DORINHA


―Papai, ainda tem “iorgute”?

Um sorriso apareceu na face daquele homem ao escutar a palavra pronunciada erroneamente pela filha. Muitos teriam corrigido imediatamente, mas ele sabia que as crianças não precisam ser tão certinhas, e que também aprenderiam cada coisa no seu devido tempo. Olhou-a e, depois de colocar um marcador de páginas no meio de um grosso livro, respondeu sua pergunta.

―Só um minuto, mocinha que adora “largatichas”! Vou pegar o iogurte na geladeira.

O pai de Dorinha levantou de onde estava e foi até a geladeira, abrindo-a e esticando a mão para apanhar o iogurte que a filha pedira. Estava tão entretido na história que lia para a filha que sequer reparou que dentro da geladeira existia um coelho, e que fora justamente ele que entregou o laticínio em sua mão.

―Grato, meu amigo.

―Por nada! ―respondeu o coelho, tremendo de frio. ―O senhor teria um cachecol para me emprestar?

―Sim, claro! Já trago um bem quentinho para você!

Ele fechou a geladeira e foi até onde a filha estava, depositando o iogurte bem diante dela.

―Com quem você estava falando, papai?

―Com o coelho branco que está na geladeira. Espera só um pouquinho que vou buscar um cachec... ―ele estaqueou, empalidecendo, e retornou apressado até a geladeira, abrindo-a.

―Cadê meu cachecol? Estou com muito frio aqui, sem contar que estamos atrasados. A Dorinha está?

―Quem é você? E o que está fazendo na minha geladeira?

Sem que o pai percebesse, Dorinha se aproximou e logo reconheceu o coelho.

―Papi! Esse é o coelho da Alice. Não está reconhecendo?

―Coelho da Alice? Que Alice, minha filha? E que porcaria é essa? Coelhos não falam.

O coelho, inesperadamente, segurou Dorinha pelo braço e puxou-a para dentro da geladeira. O pai, boquiaberto, pouco pode fazer diante da velocidade com que o coelho fez aquilo.

―Não se preocupe! ―o coelho comentou, puxando a porta da geladeira para fechá-la. ―Devolveremos sua filha assim que for possível, e de banho tomado! Fui... digo... fomos.

A porta da geladeira fechou, mas não foi o que aconteceu com a boca daquele homem, que permaneceu escancarada. Ele não sabia o que dizer, ou sequer o que pensar. E tomou o maior susto quando, abruptamente, a porta da geladeira abriu novamente e o coelho reapareceu.

―Ah! Esqueci. Isso é um sonho e você está dormindo em sua cama. Portanto, volte para lá e termine de dormir. Quando acordar, verá que tudo está tão normal quanto sempre foi. E agora eu fui, porque estou atrasadooooooooooooooo!

A porta da geladeira fechou novamente. O pai? Bom, ele rodou nos calcanhares e tomou o rumo das escadas. Instantes depois estava em sua cama, coberto até o pescoço e dormindo como uma criança.

Enquanto isso...






parte 2. POR QUE ESTÁ TUDO ESCURO?


―Esperaaaaaaaaaaa! ―Dorinha gritou, enquanto era literalmente arrastada pelo coelho. ­―Dá pra me dizer o que está acontecendo?

―Depois a lagarta conta. Agora não dá tempo. Estamos atrasados demais. E tem uma maluca querendo cortar as cabeças de todos os que vivem aqui no reino.

Dorinha ouviu aquilo e começou a ligar as coisas, enquanto escorregava com o coelho por uma espécie de túnel escuro. Primeiro, o coelho branco de Alice. Depois, ele diz que está com medo de que alguém corte seu pescoço. Só poderia ter acontecido algo de muito sério no mundo mágico. E desta vez era no país das maravilhas de Alice. Para complicar ainda mais, seu fiel companheiro Jujubão não estava com ela. Algo não cheirava bem.

―Pronto. Chegamos.

O coelho parou por alguns instantes e Dorinha aproveitou para respirar e olhar ao redor. Mas, que lugar era aquele? Era tudo tão escuro e sem vida. Ela não lembrava de nada assim nas histórias de Alice. O que teria acontecido?

Não teve muito tempo para admirar o local. O coelho segurou novamente seu braço e saiu em disparada. Ele correu tanto que Dorinha começou a esticar. Enquanto parte de seu corpo já estava lá na frente, as pernas e os pés ainda estavam plantados ao chão, lá atrás. Até que, magicamente, os pés se soltaram do chão e seguiram com o restante do corpo, que era arrastado pelo coelho. Depois de algum tempo, e de muitas curvas entre as árvores, o coelho parou. Dorinha estava zonza, e quando olhou para trás, teve a impressão de que seu corpo estava tão comprido que fazia uma espécie de trançado entre as árvores.

―Aqui está ela! ―o coelho sentenciou, jogando-se ao chão para descansar. ―Agora é com você, lagarta.

Dorinha ainda admirava seu longo corpo. Ele encolhia aos poucos, até que voltou ao normal. Ela, que deveria ter se assustado com aquilo, sorria. Sabia das maluquices que aconteciam ali por aquelas paragens. Então, colocou-se em pé e, ao se voltar para o coelho, deu de cara com a grande lagarta azul e seu cachimbo de água.

―Olhaaaaa! A largata da Alice! Sabe que eu nunca gostei muito de você, dona largata? Sempre te achei meio “cheia de querer”. Mas, mesmo assim, é um prazer te conhecer.

A lagarta, sem entender o que a menina quis dizer com aquele “cheia de querer”, deslizou de onde estava e ficou frente a frente com a visitante, medindo-a de cima abaixo. Torceu o nariz quase inexistente e resmungou alguma coisa, que ninguém entendeu, e voltou para cima de seu tronco.

O coelho ficou desesperado. Tanto empenho e, ao que tudo indicava, foi tudo em vão.

―Vamos dar uma chance a ela! ―o coelho implorou para a lagarta. ―É nossa única opção.

―Por favor! Vocês podem me contar o que está acontecendo aqui? No que eu posso ajudar?

Dorinha perguntava, mas não obtinha respostas. A lagarta e o coelho tagarelavam sem parar, mas sequer davam atenção para a menina. Até que ela, irritada, soltou um berro.

―Cheeeeeeeeees, eu sei que você está por aqui, gato danado! ―ela berrou, chamando por Cheshire, o gato de Alice. ―Pode tratar de aparecer aqui. Agoraaaaaaaaaaa.

Os outros dois pararam com o falatório e olharam para a menina, assustados. E bem perto deles, uma boca cheia de dentes foi se formando. Era a aparição preferida do gato, mas algo estava diferente. A boca representava um sorriso de cabeça para baixo, em forma de uma boca triste. Um pouco depois, a cabeça do gato estava completamente visível, e Dorinha logo percebeu que ele estava realmente tristonho.

―O que foi, Ches? Que tá pegando por aqui? Foi você que aprontou alguma coisa, seu peste?

―Antes fosse, Dorinha! ―o gato respondeu, mantendo o olhar baixo. ―É a Rainha de Copas. Ela quer dar uma festa de aniversário. E exige a presença de Alice e do Chapeleiro nessa festa. Quando ela soube que eles não poderiam comparecer, ameaçou cortar a cabeça de todos que moram aqui no reino. Usou o livro mágico para escurecer tudo, e falou que temos até o dia 15 de agosto para dar jeito nisso, ou não existirá mais País das Maravilhas.

―Ué! Ela quer fazer um “desaniversário”? É isso? E onde estão o Chapeleiro e a Alice?

A lagarta bufou e desceu novamente de onde estava. Descarregou um olhar irado sobre o gato e, com ar de arrogância, aproximou-se de Dorinha. Todos sabiam que a dita lagarta não era de falar muito, preferindo palavras curtas e irritantemente diretas, mas não foi o que aconteceu quando ela começou a tagarelar.

―O Chapeleiro está fazendo um curso de funileiro. Parece que está querendo mudar de profissão. Disse que essa coisa de estilista cabeçal não é mais pra ele. Faz uns três meses que está lá pelos lados da oficina do Gepeto, que também mudou de profissão e agora é serralheiro. Já a dondoca da Alice resolveu fazer uns bicos de modelo e agora, nas horas vagas, desfila pra grife que a Bela Adormecida montou. As duas estão promovendo a semana da lingerie lá no reino das Mil e Uma Noites, e não têm data para retornar. Sei que eu deveria ser monossilábica, mas isso é pra acabar com qualquer “monossilabismo de lagarta”, não é? Perder a cabeça porque um chapeleiro quer alisar ferro e uma dondoquinha quer mostrar a calcinha por aí? É pra acabar! Cansei. E vou dormir.

A lagarta empinou aquilo que parecia ser um nariz e voltou para a árvore. Entocou-se e, sem pressa, começou a tecer um casulo, como se estivesse pronta para hibernar. Dorinha, de boca aberta, olhou para o coelho, que apenas balançou os ombros e apontou para o gato. Este, por sua vez, fez aparecer um enorme sinal de exclamação sobre a cabeça.

―Essa é a história, Dorinha. ―comentou o gato, sem sua ironia costumeira. ―E quanto ao aniversário ou desaniversário, sequer sabemos do que se trata. A Rainha havia extinguido isso faz muito tempo. O que sabemos é que ela exige a presença de Alice para as comemorações, e do Chapeleiro para ser DJ da festa. Diz que você pode ajudar a gente, diz?

―Sim, eu posso. Mas vocês vão ter que fazer algumas coisas. Sozinha eu não consigo.

O que era uma boca de tristeza logo se transformou num largo sorriso na face do gato. Inesperadamente, o restante do corpo do gato apareceu, e um telefone celular em estilo smartphone materializou-se em sua pata.

―Alooooooouuuu! ―o gato falou prolongadamente assim que notou que alguém havia atendido do outro lado da linha. ―Tweedledum, pode avisar seu irmão, o Tweedledee, que ele já pode falar para o Valete comunicar a Duquesa que ela pode enviar um e-mail para o Dodô, confirmando para a a a a atchiiiiim... (pausa para limpar o nariz) a Rainha de Copas que está tudo certo. O quê? A ligação está ruim. Fala mais alto, seu nanico! Nãããããão, seu tonto. Não sou eu que falo muito rápido. É você que escuta muito devagar. Como assim, o que está confirmado? A Alice e o Chapeleiro estarão na festa de aniversário da rainha, seu mané!

O gato desligou o telefone e ficou observando o céu. Dorinha, sem entender, fez o mesmo, e em alguns minutos, tudo estava claro novamente.

―Caraca, que lugar lindo! ―Dorinha abriu um sorriso, completamente espantada.

―Mas, me diga, mocinha. Como você pretende trazer o Chapeleiro e a Alice para esta festa, se eles já falaram que não pretendem vir por nada deste mundo?

―Mas, e quem disse que eu pretendo trazer os dois, Ches?

―Não entendi! E já estamos atrasados com isso. A festa é na sexta-feira! ―o coelho comentou, interferindo na conversa e mostrando certa aflição.

―É simples. Vamos substituí-los. E eu tenho as pessoas certas para esta missão.

―Affff... danou-se tudo! ―O gato despencou do ar, caindo sentado perto dos pés de Dorinha.



Fim do primeiro capítulo.
Aguarde. Capítulo final no dia 15 de agosto.




Marcio Rutes




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Um comentário:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ahhhhhhhhh bom demaissssss voltar aquiiiiiii amor e me divertir com essa história mais que maluca, tantan como eu e você! rs Essa zona de personagens e a forma como desenrola a história só você faz, só você!

    Euuu ameiii essa coroa, Sr. meu Chesss..., quer dizer, Sr. meu gato! hehehe :D

    Dorinha se deu bemmm viu, porque doidinha e curiosaaaamente peste do jeito que ela é, está se sentindo mesmo é muito mais que no pais das maravilhas, está é no paraíso.

    (psiu, vem cá! cá entre nós, o 'iorgute' foi sacanegem sua rsrs)

    Agora falando sério, quero dizer, mais sério ainda... essa mistureba de histórias é de deixar qualquer um de queixo caído, tamanha é a sua 'enroscadez' e a fluidez com que acontece, com que é tecida e da forma que você nos prende e mais, amor, nos fascina. Cativa o riso de um jeito tão verdadeiro.

    Ondeeeee, em qual munnndoooo o chapeleiro estaria fazendo um curso de funileiro (só sendo maluco mesmo) e o Gepeto, serralheiro?

    Ei, Smartphone na pata???
    Eis a globalização hehehe

    Mas esse gatooooooooooo é mto meu amigo mesmo! Mas é frescooo e metidooo srrs
    "- Alouuuuuuuuuuuuu" foi de matarrr hehehe Gameiiiiiiiiii

    Bommm, depois do 'largata' que também foi pra sacanear que eu sei rsrs, só me resta aplaudir mais e mais o seu talento meu amor e aguardar essa festa que vai bombar de surpresas e gargalhadas.

    Ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
    Te amooooooooooooo
    Samara Bassi

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