segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A GANG DAS VELHINHAS

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A situação não anda boa pra ninguém mesmo. E quem sabe para aquelas quatro senhoras e aquele senhor, presos num distrito policial qualquer de uma cidade grande, a coisa fosse ficar ainda pior.

Acusações? Invasão, assalto a mão armada, sequestro, extorsão, tentativa de suborno e... assédio sexual seguido de atentado violento ao pudor. Mas, afinal, o que motivou quatro senhoras e um senhor, todos acima dos 65 anos de idade e vindos todos de famílias tradicionais, a cometer tantos crimes? Teriam sido eles as vítimas de alguma mente inescrupulosa dos tempos modernos, desses que aparecem nos programas policiais, e que os usou para depois se evadir e largar a culpa sobre eles? Ou fizeram tudo isso para se afirmar diante de uma sociedade que segrega cada vez mais o idoso? Abandono familiar? Tédio?

Não. O motivo foi bem outro. Fizeram tudo isso por serem responsáveis e por honrarem os compromissos assumidos. Ou seja, praticaram um ou mais crimes por serem, justamente, honestos. Curioso? Então, sente-se e se prepare, pois a história é longa.

Tudo começou numa reunião do pequeno clube de baralho que Dona Maria mantinha em casa para, assim, reunir as amigas, distrair-se e manter as fofocas em dia. Dona Maria era a mais velha entre elas, 68 anos de idade, e viúva 5 vezes. Morava sozinha, e mesmo usando óculos, era a mais "ligeira" de todas. Na maioria das vezes acabava “limpando” as poucas economias das amigas. Leocádia, 66 anos, era a deslumbrada do grupo. Uma romântica que suspirava sempre que escutava “SHE” de Charles Aznavour. As amigas, sabedoras de que ela se derretia toda e perdia a concentração quando escutava essa música, colocaram em seus celulares uma cópia, e sempre que ela estava ganhando no jogo, davam um jeito e disparavam o player. Era batata. E além disso, era a cozinheira metida a nutricionista do grupo, mas suas orientações partiam ao rumo contrário daquilo que era correto, pois era nesses encontros que ela aproveitava para quebrar dietas e regimes.

Tinha a Dona Loló. 65 anos de idade, doceira de mão cheia, de pele jambo e surda feito uma porta. Não era incomum alguém falar “mandioca” e ela entender “como você está gostosa”. Sim. Ela era um tantinho obscena. Tarada mesmo. Segundo ela, ainda não tinha encontrado o homem certo para fazê-la “queimar a granola”. E por fim, Dona Ziza, professora de anatomia, psicóloga, solteirona e, segundo ela, virgem. Idade? Ela diz que não revela nem sob tortura. Também adora estudar ocultismo e é portadora de incontinência urinária.

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Ah! Sim. Quase esqueço de seu Macedo. Senhor alto, beirando seus 70 anos de idade, esquecido que dói, e que adora frequentar o clube de baralho “das meninas”. Obviamente, existe um interesse escuso delas sobre a presença dele. No caso, ele é quem financia os comes e bebes, e leva algumas substâncias proibidas para os encontros. Drogas? Que nada. Doces, filmes, ou qualquer outra coisa que as respectivas famílias cuidem para não serem consumidas por elas.

Apresentações feitas, vamos aos fatos que motivaram toda essa história.

O Natal se aproximava. Já era mês de julho e... sim, para elas, o tempo era uma agonia e passava voando. Mas, como eu dizia, elas queriam ter um Natal diferente, com mais dinheiro no bolso, e decidiram inventar algo que rendesse alguns trocados. Foi então que, numa das reuniões do clube, saiu uma conversa mais ou menos assim:

―Loló, você não ia trazer aquela sua prima pra gente depenar no baralho, filha?

­―Quem dera, Ziza. Aquela lá tá no pó da viola. Acho que não passa sequer a próxima gripe do frango. Tá feia a coisa. Mas é uma pena. Bem que ela merecia se divertir um pouco, né! Mas, e as amigas da Leocádia e da Maria? A gente poderia convidar elas.

―Esquece! ­―Maria respondeu, desanimada. ―Elas foram num desses chás de bebê. É sempre assim. Quando as coisas estão começando, tem festa. Quando estão terminando, tem lágrima. Chá de panela, chá de bebê. Depois, é chá de divórcio e velório.

―E por que vocês não inventam um CHÁ DE MORTALHA?

As quatro pararam o que faziam e olharam para a mesa. Lá, seu Macedo conferia alguns canhotos de apostas do jogo de bicho, mas largou tudo na mesa e ficou silencioso, olhando para as quatro mulheres.

―Explica isso, Macedo! ­―Ziza, a mais antenada das quatro, se interessou pelo assunto.

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―Simples! Vocês fazem uma lista dos amigos e conhecidos que já estão com um pé na cova, e propõe uma última comemoração. Como se fosse um desses chás de bebê ou de panela. Só que no lugar dos convidados levarem presentes e mimos para a criança ou para a casa, levam utensílios úteis para um futuro velório, como vale-pão, mortadela, vale-flor, mortalha, e coisinhas assim. Além do que, tem a festa que o futuro defunto vai fazer, ainda em vida, para os amigos e conhecidos. Todos se divertem e o candidato a defunto ainda sai no lucro. Para ir além, vocês podem até ter um caixão, para ensaios fotográficos. Quem sabe até vender um plano funerário seria interessante.

Aquilo parecia ser a ideia mais estapafúrdia possível, mas justamente por ser inusitada é que chamou a atenção de Ziza e das outras. Resultado? No dia seguinte estavam as quatro mulheres diante do computador, pesquisando e inventando um jeito de levar aquilo adiante.

A primeira dificuldade encontrada foi convencer alguém a ser o primeiro cliente. E lá vem seu Macedo novamente, com suas ideias mirabolantes.

―É simples. Uma de vocês quatro pode inaugurar tudo isso. É só fingir que é uma cliente, e sair convidando todo mundo. Ninguém precisa saber que isso é um empreendimento. A Maria, que é mais comunicativa, pode ser a Promoter do evento. Loló e Leocádia são mais emotivas, então puxam o choro, como carpideiras, e a Ziza, que sempre foi mais ligada nessas coisas de bruxaria, pode tranquilamente bancar a defunta.

―Sei não. E a incontinência urinária dela? ―Maria já saiu provocando. ―Ainda acabamos tendo que deixar um penico debaixo do caixão. Sem contar que seria o primeiro velório com morto mijado que eu iria presenciar.

Todos caíram na gargalhada, mas foi exatamente o que fizeram. Loló, que conhecia o gerente de uma funerária, tratou de arranjar o caixão, enquanto que as outras se ocuparam em convidar os amigos e convencer a todos de que aquilo não era loucura nenhuma, mas sim um jeito de se divertir. E foi basicamente o que aconteceu.

O “evento” foi um sucesso. Seu Macedo, vendedor nato, se deu conta de que aquilo era um acontecimento que poderia interessar à mídia, e também tratou de “espalhar” a notícia entre alguns de seus conhecidos. E deu certo. No dia seguinte, até a televisão deu pequena nota sobre o ocorrido.

Poucos dias se passaram, até que dona Maria apareceu afoita na casa de Ziza. Precisavam reunir o grupo com urgência, pois alguém estava disposto a contratá-los para um evento de Chá de Mortalha. Era o primeiro cliente. O diferencial é que seria um evento à fantasia, e o motivo escolhido foi Dia das Bruxas. Lançou-se, então, o CHÁ DE MORTALHA TEMÁTICO.

A notícia se espalhou de vez, tornando-se um sucesso. Não demorou para que aparecessem concorrentes, mas seu Macedo era um gênio para promover inovações. Num dos eventos, fez todos irem de pijama, e quando a concorrência tentou fazer igual, lá estava ele promovendo o CHÁ DE MORTALHA NATURISTA. Loló adorou a ideia, enquanto Ziza torceu o nariz, mas fez a sua parte.

A coisa ia tão bem, que até jornalistas de outros países se interessaram pela história. A mídia local não se cansava de fazer chacota, mas quanto mais se tentava ridicularizar a ideia, mais sucesso ela fazia. Dinheiro para o Natal? Que nada. Naquela altura, eles estavam pensando era em viajar para a Europa. E foi quando a ganância tratou de complicar tudo.

Uma nova cliente. Atriz famosa, mas com a carreira em declínio, e querendo mais alguns minutos de fama. Evento para sair em todos os maiores canais de mídia. Tema? Exotérico. E Ziza foi a primeira a se maravilhar. Bolou estratégias de mídia e desenhou cenários. Pensou numa decoração extravagante. Velas. Muitas velas pretas. O que a atriz pensou sobre isso? Para ela pouco importava. Queria apenas um pouco mais de espaço nas revistas.

Leocádia e Loló também se maravilharam. A primeira pelo glamour do mundo dos artistas. Pensou em convidar Pedro de Lara, Dercy Gonçalves e Hebe para o evento, pois era fã ardorosa de cada um deles, mas desistiu assim que alguém comentou com ela que todos já haviam partido desta para melhor. Contentou-se com alguns figurantes que haviam participado do filme “O PAGADOR DE PROMESSAS”. Já Loló pensou na possibilidade de encontrar algum daqueles bonitões da TV. Quem sabe alguém como Toni Tornado, Rolando Boldrin ou Silvio Santos, ou até mesmo outro mais novo, como Raul Gil ou José Sarney. E ficou ali, deslumbrada. Era sonho, claro, mas quem disse que sonhar é proibido?

Para dona Maria a história era outra. “Negócios são negócios. E se traz dinheiro, to dentro”, dizia ela. Já seu Macedo estava pensativo. Quieto e sisudo, andava pelos cantos, nitidamente preocupado. Ziza, sem entender, foi até ele e perguntou se não tinha gostado da nova cliente. E ele logo expôs seus motivos.

―É muita areia pro nosso caminhãozinho. E as velas? Você relacionou 300 velas pretas aromatizadas, Ziza! Onde vamos conseguir tudo isso?

―Samira. ―Ziza respondeu de pronto, fazendo com que Macedo se engasgasse.

―Neeeeeeeeeeeeeem a pau. A Samira não. Eu e ela não podemos sequer transitar na mesma rua. Ela me odeia.

―Pára com isso, Macedo. Você é quem aprontou com ela. Lembro bem da história. Deixou ela esperando por 3 anos, enquanto você foi na esquina comprar cigarros. Quando voltou, estava casado e com dois filhos.

―Tá. Eu até aceito essa ira dela. Mas ela nunca esquece. Na última vez em que ela esteve lá em casa, colocou purgante na minha pasta de ameixa. Como se não bastasse, trancou todos os banheiros e jogou as chaves fora. Acho que ela não vai topar. E se aceitar, vai dar um jeito de ferrar tudo. Eu to avisando.

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Ziza, a muito custo, convenceu Macedo a aceitar a presença de mais uma sócia no evento. Assinaram contrato com a atriz e partiram para a organização de tudo. Eram extremamente profissionais, mas desta vez, algo estava errado. O deslumbramento de todos, cada um com seus motivos, levava-os a negligenciar alguma tarefa ou obrigação. E quando se deram conta, os prazos estavam esgotando e muito pouco já havia sido providenciado. Correria.

A divulgação, por conta de Macedo, foi maciça. Convidados de outras cidades e, claro, gerentes e donos de funerárias de todos os cantos. Todos interessados naquele negócio que não parava de crescer. E aos poucos, tudo foi se ajeitando, até que um problema inesperado pegou a todos com as calças nas mãos.

―Amanhã é o dia. E por sorte, está quase tudo pronto. ―Maria comentou, quase comemorando.― Falta apenas montar a estrutura das velas.

―Não tem problema quanto a isso. ―Ziza tomou a palavra, também demonstrando contentamento. ―A Samira me ligou ontem e disse que já está tudo lá na loja, separado em caixas de papelão.

As quatro mulheres estavam na sala, praticamente largadas pelos sofás e tomadas pelo cansaço, quando Macedo, literalmente, invadiu a casa, afoito e preocupado.

―Meninas, vocês não vão acreditar. A Samira... morreu hoje cedo.

―O quê? ―as quatro gritaram praticamente juntas, assustadas.

―Eu falei, bem que avisei... ―Macedo se encostou na porta, quase tendo um enfarto. ―Avisei que essa peste ia aprontar pra mim. Ela não me perdoa. Pilantra.

­―E agora? ―Maria foi a primeira a retomar a consciência. ―Precisamos cancelar o evento. Sem as velas, nada feito.

―Nem brincando. Lembra que já recebemos adiantado? ­―Leocádia argumentou, mostrando desespero. ―E tem muitos convidados de fora e que já estão aqui. Tem a imprensa, os donos de funerária. E até a assessoria do Wanderley Cardoso disse que tem chances dele comparecer. Nem brincando que vamos cancelar. Temos que dar um jeito. O que você acha, Loló?

―Wanderley Cardoso? Mas... Mas... Você não tinha dito que ia tentar a presença do Jair Rodrigues? Você me enganou. Sabe que tenho uma quedinha pelo Jair, mas resolveu trazer justo o Wanderley? Ah, isso não vai ficar assim.

A bagunça foi geral. Ninguém falava coisa com coisa. Aos poucos, Macedo foi soltando o corpo, até sentar-se ao chão. A mulherada não parava, e falava, falava, falava. Até que Macedo viu algo que rendeu uma ideia. Debaixo da mesa, um pé-de-cabra sorria para ele.

―Vamos arrombar.

Todas calaram ao mesmo tempo. Arrombar? Arrombar o que? E, claro, por que?

―Ué! ―Macedo deu de ombros, mostrando que não tinham alternativa. ―Pelo que sei, as velas estão lá na loja do shopping. Já telefonei para a família da Samira, e eles disseram que não existe a mínima chance de fazerem nenhuma entrega antes de realizarem um inventário. Mas nós já pagamos por aquilo tudo. É nosso. E de mais a mais, assim me vingo daquela pilantra. Cáspita, ela não podia morrer num outro dia.

Estava decidido. Se esconderiam no shopping e, depois de fechado, arrombariam a loja de Samira e pegariam as velas. Seria fácil. A filha de Loló trabalhava por lá, e eles tinham acesso direto a administração. Para facilitar ainda mais, o vigia, Nestor, era conhecido de Leocádia. Ela sabia que ele só esperava todos saírem para cair no sono. Seria fácil.

Fácil? Não, não foi fácil.

A primeira parte até se deu com certa facilidade. Esconderam-se e, quando todos encerraram o expediente e esvaziaram o local, os "gatunos" saíram de onde estavam.

―Cadê o tonto do Macedo? ­―Ziza perguntou, sendo repreendida por Maria.

―Quieta. Fale baixo. Tá querendo chamar a atenção do quarteirão?

­―Tenho que falar alto. A Loló esqueceu o trem do aparelho de surdez em casa.

―Tá. Sem problemas. O Macedo tá ali no canto. Ficou muito tempo sentado e agora não consegue levantar. A Loló tá ajudando ele. Mas, e a Leocádia?

―Mandei ela desligar as câmeras. É a única que entende disso.

Ziza mal terminara de falar, e as luzes se apagaram. Na tentativa de desligar as câmeras, Leocádia se enganou e desativou a chave geral de energia do prédio.

―Tem certeza, Ziza? Será que ela sabe o que tá fazendo?

―Bom. Sem luz, as câmeras não vão poder filmar a gente. Agora vamos. Senão não vamos terminar isso até amanhecer.

Quando eles estavam saído da administração do prédio, Leocádia estava voltando. Contou que Nestor estava numa salinha, roncando profundamente. Loló e Maria arrastavam Macedo, enquanto Ziza ia na frente, esgueirando-se pela parede como se fosse num desses filmes de agentes secretos.

―O que ela pensa que está fazendo? ―Macedo perguntou, enquanto ajeitava algo dentro das calças.

―Liga não. ―Loló respondeu, olhando com curiosidade para Macedo. ­―Deixa ela brincar de “FULGA DE ALCATRÁZ”. Mas, diz uma coisa, Macedo! Por que você está mexendo dentro das calças? E o que é essa coisa comprida e grossa que está aparecendo aí? Que é isso?

―Arre! O pé-de-cabra, ué! Quer arrombar a fechadura de que jeito?

―Ah! Tá! Que pena!

Um pouco mais adiante, Ziza parou e olhou para os lados. A pouca iluminação fez com que ela firmasse bem os olhos. Os demais também pararam e observaram, e se espantaram ao vê-la sair correndo de um jeito bem estranho.

―E agora? Onde essa doida vai? ―Leocádia perguntou, encostando-se na parede.

―Banheiro! ―todos os outros responderam, fazendo coro.

Meia hora depois, e com mais três idas ao banheiro, Ziza para diante de uma porta metálica. Todos se olharam e estranharam. Ninguém lembrava de nenhuma placa vermelha na entrada da loja de Samira.

―Ziza! Você tem certeza de que é aqui?

―Maria, é claro que eu tenho. Extremo norte, perto do quiosque de sorvete. Agora, vamos logo, senão não saímos daqui hoje. Alguém lembrou de trazer os explosivos?

―Acho que ela esqueceu de tomar o Gardenal nesses dias. Só pode! ―Maria puxou o braço de Macedo, e o mandou fazer sua parte.

Macedo se abaixou, mas logo parou. Um estalo nas costas arrepiou todo mundo, e um “aiii” lamentoso partiu de sua boca.

―Danou tudo. ­―Ziza se agitou, voltando a falar alto.

―Danou nada! E pare de falar alto! Olhem o que eu roubei lá do Nestor.

Todos olharam para Leocádia, e viram a mulher balançando um jogo de chaves.

―São as chaves de segurança. O Nestor estava dormindo, e nem viu eu pegar. Mas quem de nós enxerga bem, o suficiente para achar a chave certa? Acho que a Loló, né? Vai, Loló. Loló... Lolóooooooooooooo... Eita. Até enxerga, mas escutar que é bom, nada.

―Loló, dá pra prestar atenção? Até parece que ta aí, perdida?

―Coceira na perseguida? ­―Loló soltou um grito, irritada. ­―Tão me chamando do quê? Eu tomo banho todos os dias, viu!

―Ai, ai! Isso vai demorar mais do que eu imaginei! ―Macedo desanimou, pegando as chaves das mãos de Leocádia. ―Ziza, você... Ziza? Onde ela foi?

E novamente o coro: “Banheiro”.

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Meia-hora depois, todos estavam dentro da loja. Não enxergavam um palmo diante do nariz, mas continuaram em frente. Passaram pelo balcão principal e foram diretamente para os fundos da loja, mais especificamente para o depósito. Lá, algumas caixas de papelão chamaram a atenção. Na lateral de cada caixa, uma etiqueta dizia “VELAS ESPECIAIS BIG NEGÃO”.

―Big Negão? Que droga de vela é essa? ―Macedo perguntou, olhando para Maria, que vinha logo atrás.

―Coisa dessas doidas que mexem com bruxaria. Só pode. Samira e Ziza. Quer o que? E vamos logo que não temos muito tempo. Cadê a Loló?

Quando Maria olhou para trás, reparou um vulto na porta, carregando algo comprido nas mãos, como se fosse um cacetete. O susto foi tanto, que ela quase se atirou nos braços de Macedo.

―Calma gente. ―Loló comentou, calmamente. ―Olhem só o que eu achei.

Loló chegou mais perto dos outros, e mostrou o que tinha nas mãos. O espanto foi geral. Ziza foi a primeira a expressar algo.

―Mas isso é uma benga! E é enorme! Onde você achou isso?

―Tava ali no balcão. Pelo visto é um vibrador. O que será que a Samira andava aprontando por aqui? Não sei por que, mas me deu uma saudade do falecido!

―Vocês querem parar de ficar admirando essa coisa? ­―Macedo reclamou, começando a recolher as caixas para levá-las até o estacionamento. ―Parece que nunca viram um pinto na vida!

E o coro fez presença novamente: “Desse tamanho, nunquinha”.

Tudo ia bem, até que já na boca do amanhecer, Nestor acordou e resolveu fazer a ronda. As caixas já estavam quase todas nos carros, e quando o grupo voltava para pegar o restante, deram de cara com o vigia. Ele, sem entender nada, ficou apenas olhando. E foi exatamente o que todos os outros fizeram. Ficaram estáticos. No entanto, espantaram-se pouco depois, ao reparar que Loló chegava sorrateira, por trás do vigia, e com algo nas mãos.

Ela se aproximou e encostou aquele vibrador nas costas do vigia e fingiu que era um assalto. Nestor, ao sentir que algo o espetava na altura das costelas, empalideceu. Foi dobrando os joelhos, até que do nada, desmaiou.

―Eita, cabra macho! ―Ziza comentou, rindo. ―Acho que ele não vai gostar muito quando descobrir que a Loló dominou ele com um pinto.

―Não podemos deixar ele aqui. ―Maria interrompeu, pensativa. ―Vamos levar junto. Vai que ele dá com a língua nos dentes antes de fazermos o evento?

E lá foram todos, arrastando o vigia. Já quase amanhecia, e Leocádia, a última a sair, virou para trás e tentou ler o que estava escrito na placa vermelha, logo na entrada da loja de Samira. Mas como seus óculos não ajudavam muito, pouco conseguiu ver.

―Hot Se... Hot Sex... ah, sei lá. Ficam dando esses nomes esquisitos pros comércios. Por que não dão um nome brasileiro, ou algo assim?

Cansados, foram diretamente para o salão onde seria realizado o Chá de Mortalha. Por lá, deixaram as caixas e Loló, que ficaria responsável pela montagem do cenário com as velas. Além disso, uma grande cortina preta esconderia toda a decoração especial, que seria mostrada somente quando a atriz se deitasse no caixão para fazer a sessão de fotos.

Ao voltar para um dos carros, Maria estranhou a ausência de Ziza. Procura daqui, procura dali e, ao vê-la, quase morre de susto. Ziza, calmamente, despia Nestor, e o ajeitava no porta-malas do veículo de Macedo.

―Sua maluca. Por que isso?

―Vai que ele acorda e resolve fugir! Sem roupas não vai a lugar nenhum.

―Até que ele é um coroa bem enxuto.

―Isso não é hora para sentimentalismos. Vamos embora, Maria. Temos muito o que fazer ainda. E a Leocádia? Tá com o Macedo?

―Estão telefonando e confirmando tudo. Vamos com o carro do Macedo. Mas, e o Nestor? Já sequestramos mesmo. Fazemos o que com ele?

―Sei lá! Qualquer coisa, damos um porre nele, contratamos uns garotos de programa e batemos umas fotos. Se ele quiser dar com a língua nos dentes, fazemos chantagem.

―Ai, ai, ai. Você anda assistindo muita televisão.

Assim, o dia passou, com tudo se ajeitando e correndo bem. Para decepção de Leocádia e Loló, os únicos artistas que apareceram foram os funcionários de um tal Circo do Lingüiça, que estava instalado nas proximidades. Mas vários outros convidados deram o ar da graça, assim como a imprensa e os empresários.

A festa era puro glamour e divertimento. Flashes disparavam a cada instante, e os garçons não conseguiam ficar com as bandejas cheias. E tudo ia bem. Bem demais.

­―Ziza, você arrebentou! Adorei os detalhes das velas. Nossa, arrepiei!

―Do que você está falando, Loló? São apenas velas pretas aromatizadas.

―Pois é... e que velas. Ui, ui, ui! De tirar o fôlego. Mas vou lá pra trás da cortina, que já vamos abrir o palco principal. Aiiiiiiii, to emocionada. Vai ser o must!

―Pirou! Essa deve ter visto o passarinho verde! ­―Ziza estranhou, mas pegou o microfone para anunciar o descerramento da cortina.

―Por favor, gostaria da atenção de todos. Tenho certeza, meus amigos... que o que vocês assistirão aqui jamais será esquecido. ―Ziza falava, orgulhosa de tudo. ―Atrás dessa cortina estão signos daquilo que nos moveu desde nossa gestação. Atrás dessa cortina estão elementos que queimam em cada um de nós, simbolicamente. A chama que nos ilumina vem dessas belas peças. Que desça a cortina!

Assim foi feito. Calmamente, Macedo puxou a corda que abria a cortina. E, exatamente da maneira como Ziza havia dito, foi um espetáculo que ninguém esqueceu.

―Mas, o que é isso? ―uma senhora comentou ao ver todas aquelas velas acesas. ­―O que são essas velas? Me parecem algo conhecido.

―Olha, Mirtes. ―outra senhora respondeu, arregalando os olhos. ―Se a memória não me falha, são pintos!

O alvoroço foi geral. Quando Maria e Ziza olharam para trás, o que viram foi Loló terminando de acender a última vela, que era justamente em formato de pênis. E o que eles tinham ali era um tablado enorme, com mais de duzentas velas acesas, e todas elas pretas e no formato do órgão sexual masculino, porém, num tamanho deveras avantajado.

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O alvoroço tomou conta. A atriz, sem entender nada, tentou levantar do caixão, mas a tampa escorregou e a deixou trancada. Os fotógrafos não perdoaram, e deram closes e mais closes naquelas velas inusitadas. Como se não bastasse todo o furdunço, Nestor resolveu dar o ar da graça. O problema é que além de bêbado, ela estava completamente nú, e mal conseguia trocar os passos. E mais flashes dos fotógrafos.

―Você não falou que ia amarrar ele, Ziza?

―Arre, não pensei que ele ia conseguir levantar depois de tomar quase um garrafão de cachaça.

E as coisas não paravam de piorar. Entre os convidados, estava a mulher do delegado de polícia, que se sentindo ofendida, telefonou para o marido. Em menos de uma hora, estavam todos na delegacia.

Lá, Maria tentava argumentar com o delegado. Explicou tudo o que ocorreu desde o início, e ele até parecia disposto a escutar, mas Macedo tentou atalhar, e ofereceu uma parte dos lucros do evento para o delegado. Resultado disso: todos presos.

No dia seguinte, recolhidos na cela da delegacia, Ziza se lamentava e argumentava com os demais.

―Pois é. No fim das contas, estragamos tudo. Mas, alguém sabe onde foi parar o Nestor, afinal?

―Abri o caixão e empurrei ele pra dentro. ―Macedo respondeu, de cabeça baixa. ―Bêbado daquele jeito, e pelado, só iria piorar as coisas. E tranquei, pra não ter problema dele sair.

Dois meses depois, com tudo mais calmo e todos em liberdade, mas respondendo processo, eles se reuniram novamente na casa de Maria, para tentar retomar o clube de baralho. Ziza e Macedo conversavam a um canto.

―Então, Macedo. Como ficou a invasão da loja?

―Eles só vão cobrar os prejuízos. Só queria entender como é que fomos nos enganar de andar! E invadir justamente um sex shop. Falando nisso, eles estão cobrando algo esquisito. Segundo eles, além das caixas com as velas, sumiram mais vinte vibradores, chicotes e lingeries especiais.

Os dois se olharam e riram, fazendo coro: “Loló”.

―E apesar de toda a bagunça, os donos de funerária gostaram. Temos mais gente interessada no Chá de Mortalha.

―Tudo bem, Macedo. Mas vamos esquecer isso por enquanto. Só queria saber o porque daquela atriz retirar todos os processos que nos acusou inicialmente.

―Você não sabe o que aconteceu? O Nestor convenceu ela!

―E o que o Nestor tem com isso, santo Deus?

―Bom, quando eu empurrei ele para dentro do caixão e tranquei, nem reparei que ela estava lá também. O fato é que eles tiveram uma noite, digamos, bem próxima e muito inusitada. Vai saber o que aconteceu lá naquele caixão, não é?




Marcio Rutes



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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

EM VEZ DE “FALAR” ABOBRINHA, COMA ELA. É MAIS SAUDÁVEL.

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Taí uma coisa que sempre deixou em mim uma lasquinha de curiosidade: por que alguém que vai fazer (ou está fazendo) regime, precisa espalhar tal fato aos sete ventos?

Pensei e repensei. Analisei de todas as formas que me cabem e até de alguns jeitos inusitados, não muito ortodoxos e que estão bem distantes de minha forma de pensar ou, principalmente, de minha formação. Conclusão? Não sei se cheguei a alguma, mas vamos lá.



1) UM OLHAR VIRTUAL E UM TANTO PUBLICITÁRIO DA COISA

Vou começar a análise usando meus conhecimentos técnicos de redes sociais e, claro, publicidade e propaganda.

A pessoa, seja ela homem ou mulher, suporta uma enxurrada de apelos comerciais, estéticos ou “egoístas irracionais” (se é que existe egoísmo racional!) dos mais variados quando está navegando pela web ou ligado a qualquer meio de comunicação. É bombardeada a cada instante por informações que podem ser as mais confiáveis ou, o que é pior, sem um pingo de fundamento ético, profissional ou legal.

Num primeiro momento, na web principalmente, a pessoa navega por páginas e páginas que mostram o estereótipo daquilo que seria o padrão perfeito de beleza feminina ou masculina. Nesse ponto começa o martírio. A pessoa se sente fora de forma, feia, velha, gorda ou magra em excesso, marginalizada pela mesquinhez de outros seres humanos melhores do que ela... enfim, se enxerga fora daquele padrão que ela pensa existir.

Resultado disso? Fica deprimida.

Logo em seguida, e pensando que é mero acaso, aparecem milagrosamente todas aquelas matérias e propagandas em redes e páginas, ou pessoas das mais variadas falando em regimes milagrosos e dietas mágicas. Então, lá vai a pessoa decretar que precisa de um regime.

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Porém, ela está nas redes sociais, não está? Então, por que não avisar aos amigos (e ao resto do mundo, claro) que está iniciando um novo processo de regime ou dieta?

O engraçado é reparar as reações logo após o anúncio. Dependendo da popularidade da pessoa, podem aparecer milhares de comentários incitando a não realização do regime. Pois é. Muitos, mesmo sem conhecer a pessoa, alegam que ela “está perfeita, com o corpo fantástico, etc...”, e isso tomando por base unicamente algumas fotos que sequer se sabe se são realmente da pessoa em foco, ou melhor, que está de regime.

Outros, alguns poucos e talvez realmente conhecidos e amigos, dão apoio, dizendo que se for realmente aquilo que a pessoa quer, que vá em frente. No entanto, do outro lado da tela, ficam fazendo careta e pensando “vai lá... não vai adiantar nada mesmo...”.

E tem aqueles desconhecidos que caem de pára-quedas no assunto e já vão pedindo para serem melhores amigos e falando um monte de patusquelada, como se fossem íntimos. No fim, tentam vender algum produto ou pedem para a pessoa entrar em alguma corrente.

Nessa altura do campeonato, começam a surgir as alternativas para o regime, pois todo mundo quer dar seu pitaco. E o que era para ser uma simples dieta, já começa a tomar ares de laboratório de ensaio do grupo de gastronomia alternativa da casca de banana. Mandam o cidadão chupar pedra branca e pular amarelinha com testículos secos de rinoceronte. Santo remédio, é o que dizem.

Desanimado(a), o cidadão acha que aquilo foi demais e se entrega a uma pizza 4 queijos, deixando para a semana seguinte o tal regime.


2) MELHORES AMIGOS. SERÁ QUE É VANTAGEM AVISÁ-LOS QUE ESTAMOS DE REGIME?

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Deixando de lado essa coisa de web com publicidade e propaganda, onde existe um misto de mensagens fazendo uso da linguagem na função metalinguística (própria para dar um nó na cabeça do indivíduo por utilizar uma linguagem não convencional, onde a pessoa realmente precisa PENSAR para poder interpretar) e da função emotiva (onde as mensagens são subjetivas, próprias para cativar sem falar diretamente), para finalizar tudo com a função conativa (verbos no imperativo, dizendo claramente para a pessoa as palavras COMPRE, FAÇA, EMAGREÇA, ME ENRIQUEÇA, SE FERRE, e por aí vai...), vou partir para outro tipo de análise. Vizinhança de rua e melhores amigos. Face to face, ou melhor, cara a cara.


Começa assim, logo no portão. É uma conversa rápida:
―Você viu? A Glórinha cortou o cabelo!
―Pois é. Mas ela nem reparou que o pescoço dela tá parecendo um tronco de árvore!

Depois, em outro portão:
―Me disseram que a Glórinha cortou o cabelo porque fez uma cirurgia no pescoço. É verdade?

Mais adiante, em outro portão:
―Pois é. Me disseram que para não precisar operar a coluna e o pescoço, por problemas de peso, a Glórinha fez uma lipo. Tá sabendo disso, benhê?

Até que a conversa chega na Glórinha, que magra e saudável, só pensava em passar no cabeleireiro para tirar uns 2 dedinhos das pontas do cabelo.
―Glórinha do céu e da terra. Vem cá que preciso te contar. Tá todo mundo por aí falando de você, menina. Como você foi engordar desse jeito?
―Você acha, Julinha? To assim, tão gorda?
―É! Tá não! Mas se bem que acho que tua bunda tá um pouco grande, algumas estrias... mas esse teu pescoço tá gordo mesmo.

E lá vai a Glórinha pra frente do espelho. Olha daqui, olha de lá. Os olhos não captam nada, mas como o cérebro é movido pelo falatório dos outros, já decreta. Regime. E sai espalhando pra todo mundo.

No dia seguinte, lá naquele primeiro portão:
―Você viu a Glórinha? Pois é. Tá magra feito uma garça doente, mas diz que vai fazer regime. Será que tem anorexia?


3) REGIMES OCASIONADOS POR DISCUSSÕES CASEIRAS ENTRE MARIDOS E ESPOSAS

Tem, sim, um regime que é promovido por discussões entre maridos e esposas. Mas na realidade a motivação não vem para a pessoa, mas parte dela para o cônjuge. Começa mais ou menos assim:
­           ―Amoréco meu do meu coração (ela diz, enquanto ele pensa “lá vem coisa”), você acha que eu estou fora dos padrões estéticos do momento?
―Não entendi, meu amor. Você está o quê?
―Gorda, seu insensível. Perguntei se eu estou gorda.
­           ―Que nada. Você continua sendo meu pudinzinho de chocolate, igualzinho ao que era quando nos casamos.
―O queeeeeeeeeeeee? Naquela época eu estava nervosa, comendo feito uma égua prenha, e engordando horrores. Lembro que eu estava com mais ou menos 63 quilos e 429 gramas, e levei um ano para voltar ao meu peso ideal, que é 62 quilos. E o pior! ―a essa altura, ela já está aos berros ­― Você fala comigo e lembra de um pudim? To de mal e to de regime. E falando nisso, bem que minhas amigas comentaram que você anda criando barriga! Daqui a pouco, tá tão gordo que não vai enxergar nem o próprio pinto!

E lá vão os dois para o regime. Ela para não dar os braços a torcer para o marido e, claro, para ficar em melhor forma que as amigas, e ele para não correr o risco de, digamos, criar uma barreira entre seus olhos e seu... pé.

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No dia seguinte, ela já contou para sua melhor amiga. Algumas (poucas) vezes a amiga até age com jeitinho e responsabilidade, dissimulando e mostrando que aquilo é desnecessário e até pode trazer riscos para a saúde. Mas na maioria das vezes a ação é para piorar tudo mesmo. Quando aprova o regime da amiga, é porque ela não precisa mesmo perder peso, porém a outra acha que ela deve afrontar o marido ou algo assim. Existe também aquelas “amigas” que só o que querem é ver as outras ficando mais feias para, assim, sentirem-se em melhor forma e mais bonitas com relação às suas vítimas. Essa dita “amiga", não raro, dá dicas de técnicas e dietas estúpidas, ou pior, recomenda até remédios ou chás que podem fazer verdadeiros estragos.

Pior é quando a “amiga” desaprova, e tenta dissuadir a outra da tal dieta. É comum dizer que o marido (aquele mesmo que estava quietinho e, logo em seguida, ficou com medo de não mais poder enxergar o... joelho) é quem está zoando com ela ou, baita sacanagem, tentando deprimi-la para ver se ela comete suicídio ou se interna numa clínica psiquiatra para que ele possa, dessa maneira, se casar com a futura secretária. Coisa de louco.

Já o marido, que está preocupado em não mais conseguir enxergar o... a joanete, além de contar para os amigos que está de regime, vai para uma aula experimental da academia. E aquilo é uma verdadeira maravilha. Um desfile de bundas de todos os tipos. Assim, ele descobre que seu mundo vai além daquela bunda, digo, daquele quintal que ele tem em casa. Mas ele está tão confuso e preocupado com a história da barriga e do... tornozelo, que acaba parando num bar com seu melhor amigo. Enche a cara e sequer para casa acaba indo. Quando se dá conta, acorda no dia seguinte na casa do melhor amigo. Pior ainda. Dormindo no sofá, nu. O que aconteceu? Só ele pode contar... se é que vai saber (ou ter) o que contar.


4) OLHO GORDO. E PARA ESSE, DE POUCO ADIANTA DIETA OU REGIME

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Tem o olho gordo também. Pois é. Falei que iria usar meios não muito ortodoxos de análise para explicar meus pontos de vista.

O tal olho gordo funciona assim. Alguém tem algo, e outro alguém tem outro algo semelhante. O primeiro alguém, não satisfeito em ser proprietário de um único algo, descobre que o outro alguém tem aquele outro algo e passa a invejá-lo. Entendeu, não é? Meio confuso tudo isso.

Um regime de olho gordo pode funcionar de duas formas. Na primeira maneira, alguém é motivado a entrar no regime por outra pessoa que está invejando esta primeira pessoa, e na segunda, o próprio invejoso entra na dieta por não suportar ver alguém em melhores condições que ele. Mais ou menos assim:

a) olho gordo motivando
―Mas será, Patrícia Fernanda? Eu acho que esse vestido me veste tão bem! Quando me olho no espelho, não vejo essas gordurinhas que você tanto fala.
―Ah! Amigaaaaaaa! Vai por mim. Você sabe que sou quase uma irmã pra você, e só quero o teu bem! (fazendo aquela cara de “ai, que raiva dessa safada que tem esse corpão e eu não tenho...”).
―Você tem certeza, Patrícia Fernanda? To gorda mesmo?
―Marlene Maria, o que é isso? Você acha que eu, uma pessoa tão desapegada das coisas, iria “te mentir”? E, aliás, nem acho que esse vestido te caia bem. Te empresto aquele meu azul-lama, e você me dá esse de presente. E isso é só pra te provar como te gosto. Falando nisso, tem umas estrias aparecendo aí atrás. Cuidado com isso, amiga! Teus ombros também estão meio largos, né! E quem foi que “te” cortou o cabelo?
―Nossa, Patrícia Fernanda! Ainda bem que tenho você pra me levantar o astral!

No outro dia, em alguma festa:
­            ―Patrícia Fernanda, nooooossa, que vestido lindo! Mas ele não era da Marlene Maria?
―Pois é, Lurdes Ivone. Veja que coisa! Ela quase me implorou pra eu ficar com esse vestido dela. Me disse que tá se sentindo gorda. Pode isso?
―Ela me ligou e falou que está de regime. Que ridícula! Tão magrinha, e fica fazendo dieta, só pra tentar ser mais do que a gente. Até parece que vive de olho gordo em cima da gente, né lindona?
―Pois é, Lurdes Ivone. Bem assim mesmo. Mas, tava reparando nessa tua blusinha. Sabe que ela não te cai bem... te engorda um pouco.
―Ah não! É verdade? Que bom ter uma amiga igual a você, que avisa a gente! Tão diferente daquela ridícula da Marlene Maria, que só o que quer é aparecer!

b) olho gordo buscando motivação
―Pedrinho, meu garoto. Que bom te ver. Aliás, você está em plena forma, não é?
―Que é isso, Léo. Você também está muito bem.
―O que você anda fazendo pra manter esse tanquinho desse jeito, rapaz?
―Trabalhando muito, Léo. Além disso, jogo meu futebol, faço academia, mantenho minha saúde em dia e uma alimentação saudável. Sem contar que a Helô cuida bem de mim.
―Ah! A Helô! Academia? Futebol e alimentação? Que bom!

No dia seguinte:
―Léo! Vamos dar uma passadinha naquele bar da orla depois do trabalho?
―Estevan, me desculpa, meu chapa. Sei que sem mim não tem muita graça, mas não vou poder ir. Marquei um futebol com a turma, e depois vou pegar uma academia. Também comecei uma dieta mais saudável hoje, e não quero comer nada que prejudique isso. Falando nisso, você sabe o telefone da Helô, a mulher do Pedrinho? Queria trocar umas ideias com ela!
―Poxa, que pena! Não sei, rapaz. Mas pra que academia, Léo? Você está ótimo!
―Que nada, Estevan. To me sentindo gordo. Falando nisso, como você consegue ficar assim em forma, sem academia?
―Meu organismo meio que se mantém assim por conta. E parei de fumar. Sem contar que eu e a Jandira fazemos caminhadas e somos vegetarianos. Ajuda muito.
          ―Jandira? Caminhada? E são vegetarianos, é? Huuuum!

Mais um dia se passa:
―Léo, que bom te encontrar! To indo almoçar. Vamos nessa?
―Me desculpe, Luiz. Virei vegetariano. E não deu tempo de fazer caminhada hoje cedo, por isso to indo agora. E no fim da tarde ainda tenho o futebol e academia. To ralando pesado pra entrar em forma! Diz uma coisa. Você tem o telefone da Jandira, a mulher do Estevan? É que eu queria umas dicas sobre dietas vegetarianas... ei! To reparando que você tá saradão! Como você faz isso?
―Se eu te contar, você não acredita!
―Para de ser egoísta e divide comigo o teu segredo, Luiz. To louco pra entrar em forma.
―Não sou muito de exercício, e nem cuido tanto da alimentação.
―Me ensina logoooooooooooooooo esse segredo, cara. Que maravilha!
―Olha, Léo. A única coisa que faço é amar muito, e... bem... depois que casei, gasto muitas calorias na cama. Você sabe como é, né? Sexo, sexo e sexo!
―Casou, é? Nem tava sabendo! (taí o segredo... sexo. Também quero fazer muito. Por isso eles são assim e eu não. ―ele pensou).
―Foi uma cerimônia muito reservada. O Jorjão é meio tímido, e não queria muita gente além da família.
―Casou? Jorjão? Ah... deixa pra lá. Vou continuar com a academia, o futebol, as caminhadas e comendo alface. Até mais, Luiz. Fui.


5) MINHA CONCLUSÃO

Existem vários fatores que motivam uma dieta ou um regime, e na maioria das vezes a pessoa não se aguenta e sai espalhando pra todo mundo. Será que é por precisar da aprovação ou incentivo dos outros? Será que é pra se mostrar? Talvez uma fraqueza, e com isso, uma tentativa para se afirmar? O que sei é que cada um tem seus motivos e razões, e nem sempre elas são as mais corretas ou cabíveis.

Antes de decidir entrar em um regime ou dieta, tenha em mente que ele deve ser feito por você, e não pelos outros. É a sua saúde que será modificada para melhor ou pior com tal atitude. Sim, pois quando você modifica hábitos alimentares e comportamentais, seu organismo reagirá automaticamente. Alguns obterão resultados mais rápidos e aparentes, enquanto outros tenderão a demorar um pouco mais, e os sinais podem até não ficar aparentes, mas a condição do organismo, e consequentemente o estado de saúde, será alterada. Nem sempre melhorada, mas será alterada.

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Regime e dieta são coisas sérias. Deveriam, sempre, ser acompanhados por médicos ou nutricionistas, pois qualquer alteração no regime alimentar pode acarretar danos ao organismo. Erradicar por conta esse ou aquele elemento da alimentação pode significar a eliminação de algum nutriente essencial para o bom funcionamento de alguma parte de seu corpo, e o estrago pode ser enorme. Desequilíbrios podem ocorrer, e algumas substâncias a mais ou menos podem mascarar sintomas de transtornos alimentares, fazendo com que a pessoa tenha a falsa ilusão de que está se sentindo bem.

Ingerir substâncias unicamente por achar que elas auxiliarão no emagrecimento é ainda pior. Principalmente se isso foi passado de pessoa em pessoa, sendo dito que para fulano de tal fez muito bem, e para o cicrano de tal também. Tenha em mente que cada um tem uma composição física diferente, exigindo mais ou menos desse ou daquele nutriente para o bom funcionamento do organismo.

Não existe nenhuma substância que fará milagres, e te deixará em forma da noite para o dia. O que faz isso é alimentação saudável e equilibrada, exercícios NA MEDIDA CERTA PARA SEU PORTE FÍSICO, ausência de stress, muitos sorrisos, ambientes salutares, responsabilidade consigo mesmo ao escutar dicas de dietas e regimes milagrosos, não praticar auto-medicação, praticar auto-controle diante daquilo que te fará ganhar uns quilinhos, etc...

Difícil? Pois é. Ninguém falou que seria fácil. E tem mais. O simples fato de mastigar bem os alimentos já é um exercício e ajuda a queimar calorias. Ninguém precisa parar de se alimentar para emagrecer. O que se deve fazer é buscar uma alimentação correta.

Existem casos em que patologias levam ao ganho de peso. Então, regimes e dietas realizados por conta própria não vão ajudar, e muito menos a ingestão de medicamentos por conta própria. Consultar um médico especialista, nestes casos, é extremamente importante.

E pare com a idiotice de ficar perguntando para todos se você está bem ou não. Se olhe no espelho antes de qualquer coisa. Acha que não está bem? Vá medir seu IMC (índice de massa corporal), e verifique se realmente está fora dos limites. Mas não se iluda. IMC baixo demais é problemático da mesma forma que o IMC acima da média. Então, dietas podem ser feitas para ganhar massa TAMBÉM. Magreza nem sempre é sinônimo de saúde. Consulte um especialista.

Chás de ervas milagrosas, dietas miraculosas, alimentos que prometem muito além daquilo que podem fazer, soluções rápidas... milhões de pessoas sempre terão algo pra te indicar. Basta, para isso, que você diga que está pensando em fazer dieta ou regime. As consequências? Por vezes podem até funcionar, mas na maioria tendem a piorar o que já não está bom. Quer pagar pra ver?

Falando em pagar, muitas vezes a pessoa se nega a pagar uma consulta com especialista, preferindo dar ouvidos a conselhos estapafúrdios, ou então seguindo todas as besteiras que aparecem aos montes nas páginas da web e nos anúncios de fabricantes inescrupulosos de “poções milagrosas” em forma de remédio ou fórmulas milenares que se descobriu em alguma catacumba qualquer. Mas depois que se dão conta que tudo piorou, acabam parando num consultório médico e pagam muito mais do que aquilo que gastariam se tivessem se prevenido e ido antes ao especialista.

Homens tendem ao regime ou dieta, na maioria das vezes, por questões de saúde. E normalmente quando ela já está debilitada, ou quando a barriga já cresceu demais. Ou seja, fazem regime por serem relaxados e por descuidarem do corpo por longos períodos.

Já a mulher, quase sempre, entra em regimes e dietas por questões estéticas. Adoram se mostrar “gostosas” e com tudo em cima. Mas não fazem isso para agradar ao parceiro ou a si próprias, mas sim para afrontarem outras mulheres. Ou seja, pela vaidade.

Irresponsabilidade com o corpo e vaidade, portanto, são as principais causas que levam ao regime. E isso está errado. O que deveria motivar uma dieta ou regime é a saúde, a boa condição de saúde, a manutenção do perfeito funcionamento do organismo.

Pensar em regimes e dietas somente quando o corpo já está no limite, ou apenas por questões de vaidade, é pura BURRICE. Pense nisso. Ou será que você prefere ser um(a) irresponsável vaidoso(a) BURRO(A)?

Ah, sim! E quanto a comentar para todos que você está num regime ou dieta, pense bem. Seus amigos verdadeiros apoiarão você sempre que você precisar, independente de questões de beleza. Avisarão se notarem algo estranho acontecendo, e não vão omitir opiniões sinceras apenas para se sentirem melhores do que você. Com saúde não se brinca. Faça como eles. Não queira ser mais do que ninguém, e não faça pouco caso se alguém que você conhece está fora dos padrões ridículos de beleza que o mundo tenta impor. Companheirismo e humildade ajudam a “emagrecer”. Fechar a boca também, seja para não comer o que atrapalha seu organismo, seja para não ficar falando abobrinha e torrando o saco dos outros com essa história de entrar e sair de regimes. Em vez de “falar” abobrinha, coma ela. É mais saudável.

Marcio Rutes


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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

PRA FLUTUAR QUALQUER DOCE NO CÉU DA BOCA.

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Tive pressa em aprender 
que não precisava ter pressa na vida.
Compressas de beijo, ensejo desejado,
almejado em um peito macio 
e acolhedor de minha dor.
Dor?
Dor de saudade, 
dessas que não se cura com a idade,
nem com a secura 
ou seguridade da claridade.

Doce bom é aquele 
que derrama no canto da boca,
ou que respinga no arrepiado da coxa.
Uma visão do céu.
E se desse véu se vê o amarelado das nuvens,
é na penumbra de anis do quarto 
que vejo tua silhueta,
essa mesma que indo, 
rebola meus olhos que se atiçam em você,
te querendo lambuzar 
com meus sentimentos mais maliciosos,
diretamente em tua boca.

Doce bom é teu beijo. 
Não há tabuleiro que dê sabor igual.


Marcio Rutes


Estes versos foram deixados por mim em comentário ao texto "COM AÇÚCAR, COM AFETO", de Samara Bassi.
Por questões óbvias, sou suspeito para falar qualquer coisa dessa moça que me faz tão bem, ou de sua obra, que me faz viajar. Então, passa lá e dá uma olhadinha. Vale muito.

clique AQUI para conhecer o texto que me inspirou.



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